domingo, 27 de agosto de 2023

O velho Senador do Xingu, uma crítica social. AUTOR: GILVANDRO DOS SANTOS TORRES

 

O velho Senador do Xingu, uma crítica social.


 
Nesta obra, tento passar através de dados históricos uma biografia não autorizada, sem descendente direto, foi preciso mergulhar e viver nesta região em que o velho Senador Estadual  que fez amigos e inimigos.

Agradeço a cada leitor, permita-me a dizer é um livro que marca uma época de glamour na região do Xingu, fazendo o leitor mergulhar numa sociedade dividida, opressora e custeada pelo sangue e suor dos menos favorecidos.

Escrever sobre a história da região do Xingu é algo fantástico, é como viver aquela época da ascensão a queda de um Coronel que tinha tantos admiradores como inimigos políticos, teve uma vida de luxo ao mesmo tempo simples ao querer transformar uma região até então apenas de mata fechada em uma região prospera, José Porfírio de Miranda Júnior, foi um político da República velha.

Passei três meses pesquisando na cidade de Altamira em 2017 nos meses de fevereiro, março e abril, residindo em um quarto solteiro de uma pensão em frente rodoviária municipal. Foram longas noites digitando, lendo e na imaginação me colocando no contexto social da época, vivendo e passando pelos locais citados no livro, conversando com pessoas desconhecidas e observando as lindas paisagens do Xingu das longas viagens marítimas de Gurupá para cidade de Vitória do Xingu. Concluindo essa obra com olhar diferenciado de crítica social.

Autor

CAPITULO I

O IMPONENTE RIO XINGU, ALI NASCEU UM SONHO.

A origem histórica do atual município de Senador José Porfírio está relacionada com o antigo município de Souzel. 

Sabe-se, entretanto, que antes de 1750, as antigas missões dos jesuítas da Companhia de Jesus, foram as que levaram os primeiros traços de civilização ao Xingu, após vencerem, por terra, a Volta Grande daquele rio.

Ali se estabeleceram, fundaram uma missão e abriram uma estrada primitiva, fazendo a ligação entre essa missão e a localidade de Cachoeira, no rio Tucuruí. 

Após a expulsão dos jesuítas, esta estrada ficou praticamente abandonada e foram posteriormente reconstruídas, em 1868, pela missão dos Capuchos da Piedade dos frades Ludovico e Carmelo de Mazzarino.

Ao se instalarem na antiga missão dos jesuítas, os Capuchinhos reergueram-na e, contando com um número maior de índios de diferentes tribos, promoveram o seu crescimento e desenvolvimento.

Com essa missão, estabeleceram-se os fundamentos do povoamento, à margem esquerda do rio Xingu, acima da foz do rio Ambé que, ao se desenvolver, transformou-se no povoado de Altamira, e, mais tarde na vila de Altamira.

Não se sabe, entretanto, a data precisa em que o povoado foi fundado.

Pela tradição deixada pelos capuchinhos, o major Leocádio de Souza viu a possibilidade de reconstruir o caminho, não mais de Cachoeira, porém, da foz do rio Tucuruí até o povoado de Altamira, porém sua expedição não obteve êxito.

Posteriormente, em 1880 o Coronel Gaioso tomou a empreitada, juntamente com seus escravos, iniciando a abertura de uma boa estrada de rodagem, até a embocadura do rio Ambé, que ficou paralisada e perdida em consequência da Lei Áurea, que o privou de sua escravaria.

O baiano Agrário Cavalcante dando continuidade à tarefa, na parte relativa à abertura da estrada para o Ambé, não conseguiu, porém ver seus esforços coroados de resultados, por seu falecimento. Seu sobrinho José Porfírio de Miranda Júnior concluiu definitivamente a grande via e adquiriu a sua propriedade e lhe deu prosperidade.

Desenvolveu ao máximo os seus negócios da região, sendo o maior produtor de borracha e caucho no Pará, introduzindo métodos dos mais modernos à época, para incremento de suas atividades.

Em face da Lei n.º 811, de 14 de abril de 1874, foi criado o município de Souzel.

 Sendo eleito de forma duvidosa sem registro eleitoral o Sr. José Porfírio de Miranda Júnior como seu Intendente municipal, cargo que hoje se refere a Prefeito municipal, como Intendente de Souzel, dotou o município de melhoramentos para a época, tais como iluminação a gás, serviço de limpeza urbana, além de um majestoso edifício para sede da municipalidade e a Igreja Matriz, hoje em ruínas. 

Deixando a Intendência foi eleito Senador Estadual, sendo reeleito sucessivamente comprando votos e apoio, através de barganhas politicas e intimidação com o povo local até o ano de 1930, quando foram extintos os Senados estaduais, por força da Revolução de outubro.

 

CAPITULO II

UMA ÉPOCA DE CORONÉIS

         Entre as 4 horas da manha ou 5 horas da manhã os seringueiros saiam para coletar o látex, obedeciam ao sistema injusto do aviamento de mercadorias a credito, com preços altos.

O patrão cedia ao seringueiro mantimentos e material de trabalho como botas, terçado, querosene e tabaco, e o seringueiro pagaria a divida com a produção de borracha, o preço das mercadorias era injusto e nunca o seringueiro conseguia pagar sua divida.

Depois de retirar o látex da árvore peneira o liquido tirando as impurezas e adicionando o agente vulcanizador é levado ao fogo por uma hora.

O látex era adicionado ainda na mata com água de cinza, um conservante natural que impede a coagulação.

O contraste existente entre os modos de vida revelados seja na suntuosa construção do casarão, em comparação a simples morada do seringueiro, até a forma de comercio desigual e combinada imposta aos seringueiros da época pelo patrão seringalista.

Era um cenário estabelecido por uma liderança politica que se intitulavam dono de vários seringais e extensão propriedades de terras era o senhor José Porphirio de Miranda Júnior, que alcançou cargos expressivos na politica, de Intendente ao Senado Estadual do Pará.

Ao adquirir o Titulo Honorifico Militar do exercito da Guarda Nacional de Coronel.

Valendo-se de alianças políticas e familiares para barganhar terras e prestigio assim como no caso do Jarí o Coronel José Júlio se casou com a filha do Intendente Municipal de Almeirim a Sra. Laura Neno.

Na situação do Xingu foi à aliança politica com o Senador Antônio Lemos então força politica no Estado do Pará, o político José Porphirio casou-se com a sobrinha do Senador Antônio Lemos, a Sra. Rosalina Lemos.

Para explicar todo processo de barganha politica, citamos a República com suas terras devolutas que antes faziam parte do patrimônio da Coroa, passou a pertencer ao estado, à constituição de 1891 em seu artigo 64, apenas deixou sob tutela da União as faixas de terras necessárias para a defesa das fronteiras, fortificações, construções militares e estrada federais, dando autonomia ao estado fazendo herdeiros do grave problema fundiário.

No Estado do Pará foi delegado as Intendências Municipais as demarcações e os registros de terras e suas posses o que transformava em um ato de concessão pessoal, virando uma troca de favores políticos na região; Acumulando assim posses de terras e favorecendo seus afilhados políticos.

A situação da escravidão dos seringueiros que trabalhavam no seringal do Intendente de Souzel ficou claro a desigualdade e crueldade com o povo de menor renda, a fuga do seringueiro na região do Xingu era difícil tanto pela geografia do local que permitia a fiscalização dos jagunços do Intendente. 

Seu imponente palacete em estilo europeu, com mobílias de madeira em lei, deitado na rede liderava um povo, entre admiradores, servos e inimigos políticos, criava-se ali um personagem que marcaria a historia da região do Xingu.

Seu palacete com jardim e iluminação a gás acetileno, no auge de sua trajetória, palco de acertos políticos e festas na sociedade composta por seus apadrinhados, a custo do suor, sangue do trabalho escravo vindo das matas, os gritos de horrores traduzidos em silêncios e covas rasas sem identificação.

Como Intendente de Souzel, foi um excelente administrador público neste período o município teve iluminação a gás, serviço de limpeza urbana, além de mandar construir um majestoso edifício para sede da municipalidade e a Igreja Matriz.

Festas e mais festa com as famílias tradicionais e convidados de honra, fumava seu charuto cubano e tinha servas sexuais para as noites de inverno amazônico.

Uma goma extraída da seringueira (hevea brasiliensis), o produto comercial adquiriu importância na atividade automobilística que teve impulso econômico, social e principalmente nas cidades de Belém e Manaus.

Muitos nordestinos foram para região amazônica com o sonho de uma vida melhor, o governo federal estimulou a imigração das famílias.

Quando as matas se fecham, surge no lugar uma voz que tenta gritar, um povo que merece viver, anos de tradição levados pela obsessão, aqueles que trouxeram a desenvolvimento, comprado pelo escambo tradicional; Palavras enganadas ao povo um grito ecoou nas florestas deste imenso rio.

Cala-se a voz, é imposto um muro visto de longe como fachada do  desenvolvimento à custa de exploração.

Quando imaginamos que os patrões faziam seu aviamento à custa de um sistema econômico opressor e injusto...

Os Seringueiros passavam o dia tirando o látex nas estradas de seringueiras e vendiam o fruto do seu trabalho a troco de vale.

 O dono do Comercio era o famoso patrão, que era subordinado ao Coronel José Porfirio que se dizia dono de grandes lotes de terra, colocavam seu preço nas mercadorias e aumentavam o quanto podiam nunca os trabalhadores pagavam sua dívida.

Um tempo onde os Coronéis dominavam a vida econômica e política da região, onde o sistema econômico era o aviamento na base do escambo, e o sistema político era o coronelismo, onde o posseiro e seringueiros eram obrigados a votar no candidato do dono da terra onde o posseiro trabalhava.

A casa do patrão chamada de barracão era feita de madeira de lei e telhas de barro, pintada a óleo de branco e azul ao lado a casa que servia de comercio, entre as paredes muita mercadoria, o lugar era calmo e sereno mais escondia um sistema duvidoso economicamente onde os preços eram altos e quase sempre deixavam os seringueiros ainda mais endividados e forçados a entregar a produção pelo um preço menor.

O comercio lotado de mercadorias, onde os posseiros se atolavam em dividas, Ainda vendiam cachaça e querosene a preço de ouro.

A casa do seringueiro era na mata distante do barracão do patrão, perto das estradas de seringueira, coberta de palha, ponte de tala de açaizeiro, a terra emprestada onde roçava, e pescava no rio, o cenário não mudaria era a continuação do opressor contra o oprimido, uma época de medo e sem consciência política, onde o povo vivia na escuridão intelectual dos seus direitos, onde o grito era calado com a força dos patrões.

Onde alem dos perigos da mata como as onças, os índios que eram os verdadeiros donos das terras ali exploradas, entre dias e semanas exaustivas eram comuns desaparecer seringueiros na mata e serem encontrados mortos e decapitados pelos índios Araras.

Quantos nordestinos, sobretudo, que abandonavam a zona da mata devido à avassaladora seca aceitavam, então, as condições de um trabalho desumano nos seringais da região do Xingu.

A vida dos seringueiros era dura, era um trabalho solitário, só vinham na sede do casarão, para trazer a produção e trocar por instrumento de trabalho e comida como carne seca, feijão, arroz e sal.

O endividamento era eterno, no barracão de aviamento o Seringalista dono do seringal estipulava o preço das mercadorias e quando um seringueiro começava e tiver saldo era oferecida cachaça.

Coronel José Porfirio controlava todos seus fregueses, suas supostas propriedades rurais, cada palmo de terra era percorrido, em sua casa perto do forte do Ambé, era um recanto ao estilo europeu.

Paredes com molduras e porta retratos em ouro, mesa de madeira de lei com varias cadeiras, cristais franceses e um piano alemão, um tempo áureo da borracha, luxo e riqueza, poder e desigualdade social.

A feição do seringueiro era impiedosa, a pele envelhecida e sonhos distantes, daqueles que nunca mais voltaram a sua terra, morrendo em pouco tempo ou era de malária ou da má alimentação e as condições desumanas de trabalho.

O processo da coleta do látex era cortado de noite devido à frieza de não poder pegar a quentura que transforma leite em borracha, a casa de defumação era onde  o seringueiro fazia o processo de defumação e com o calor e a fumaça trazia doenças pulmonares.

Os capangas do Gerente do Seringal eram impiedosos, sempre nas matas a vigiar os seringueiros, e quando um tentava escapar pela mata eram mortos a tiros ou castigado.

O Coronel José Porfirio estende seu poder na região, com a patente de militar comprado da antiga Guarda Nacional, se torna Intermediário com o Governador do Estado para buscar votos, envolvendo a riqueza em busca de se manter no poder, candidatando a Senador Estadual.

Com seu exercito particular e seus apoiadores de famílias tradicionais na época, mantendo apoio aos latifundiários da região.

Com seu poder de persuasão delegava tarefas sem estar no meio do povo mandava fazer o alistamento eleitoral, através dos cabos eleitorais do Coronel José Porfirio, como a maioria da população era analfabeta, era preciso fazer um requerimento do próprio punho do Seringueiro, na época o voto não era secreto e todos tinham que votar no Coronel, este era o segredo de nunca ter perdido uma eleição.

Enquanto o Coronel vivia no luxo e no poder, nas estradas de seringais os seringueiros morriam de malária, eram constantemente ameaçados pelos jagunços do Gerente dos Seringais pela baixa produção, a qualidade do látex péssima, cortes mal feitos escorria numa recipientes de alumínio que acumulava o liquido, o preço desvalorizado.

 

 CAPITULO III

O PODER SENDO SUBSTITUÍDO

        O  barco da frota do Senador José Porfirio chamado de “Rio Xingu”, vinha buscar a produção no porto de Vitória do Xingu, cada viagem para Belém diminuía a produção.

Em Almeirim o poder do Coronel José Júlio também estava decaindo com revolta de trabalhadores, acima das terras de Almeirim em Belterra na fábrica de Fordlandia houve uma grande manifestação dos trabalhadores conhecido como “quebra panelas”.

Já nos seringais do Coronel, eram comuns emboscados dos índios matando os seringueiros, em confrontos os seringueiros para se defender matavam os índios, a presença de novos políticos na região e novas mentalidades trazidas da Europa e das manifestações da capital paraense, o Senador começou a perceber que seu poder estava em decadência.

Nas festas promovidas em Altamira nos clubes sociais não usavam mais os broches com sua esfinge, tornou-se um defensor da emancipação da vila de Altamira.

Em sua trajetória politica era aliado do Intendente Antônio lemos, acumulou vários opositores conhecido como Laurista ou seja seguidores do Governador do Estado do Pará Lauro Sodré. Entendendo que a educação era única forma de tirar o povo da ignorância, introduzindo no Pará a municipalização do ensino.

Seu Governo liberou recursos e as prefeituras construíram escolas. Isso que os coronéis e seringalistas da região não queriam, quando o povo começa a ler e escrever começa a conhecer seus direitos e busca-lo usufruir.

O Coronel José Porphirio de Miranda Junior, após ficar viúvo, casou pela segunda vez com Rosalina Lemos, sobrinha do senador Antônio Lemos, ao que parece, não mediu esforços para entrar na família; pois segundo rumores da região do Xingu, José Porphirio sobre sua participação na morte de sua primeira esposa para poder casar-se com Rosalina Lemos.

O coronelismo clássico que praticava com uma mistura assistencialista quando se tinha interesse, sua esposa morava numa luxuosa casa no Rio de Janeiro na época capital do Brasil, nunca morou na região do Xingu.

Os jornais paraenses tratavam o Coronel José Porphirio no Xingu, o descrevem como: “dominador e imperial senhor (...) feudatário da região”.

Na região do Xingu a fuga dos seringueiros se tornava mais difícil em virtude da geografia local, cheio de cachoeiras e com poucas possibilidades de acesso, o que permitia maior fiscalização sobre a circulação dos trabalhadores.

Segundo as noticias publicada na Folha do Norte no ano de 1904 divulgava as crueldades praticadas, desta vez nas propriedades de José Porphirio.

O jornalista enfatizava que na região do Xingu era costumeira a prática de assassinatos, na mesma frequência em que se tomava um copo d'água, no caso em que o guarda livro do estabelecimento comercial do dito seringalista mandou “amarrar o infeliz e ordenou que lhe desse uma surra de umbigo de boi”. Durante a surra “o desventurado exalou o último suspiro”.

Com o desenvolvimento da região apareceu um novo modelo de compra e venda através dos regatões eram os comerciantes que em barcos percorriam o rio Xingu para vender ou trocar mercadorias, o que permitia aos trabalhadores fugirem do esquema de compra e venda de mercadorias realizadas nos barracões de propriedade dos patrões, conhecido como aviamento.  

A borracha utilizada para troca nos regatões pelos trabalhadores era fruto do desvio de parte da produção que deveria ser repassado aos patrões, comércio clandestino que causava preocupação.

Na região do Xingu por ordem do Coronel José Porfirio  foi estabelecida a aplicação de multas aos comerciantes de regatão.

 O Coronel José Porphirio era o maior comerciante seringalista da região, portanto um dos principais interessados na extinção desse tipo de comércio.

Começando a dividir seu poder, tornando vulnerável com o novo sistema econômico imposto na região.

Com a queda do preço da borracha, e a perda de toneladas depositadas nos seringais da região, o Coronel José Porfirio começa a ter muitos prejuízos onde é forçado a vender algumas propriedades e seus próprios Gerentes, é passa a morar numa pousada em Altamira, já com uma idade avançada e sozinho, já que sua família mora no Rio de Janeiro.

O Senado estadual, no Brasil, era uma das casas do poder legislativo dos estados durante a República Velha, sendo extinto no ano de 1930, Senador Jose Porfirio passa a prever que seus dias de poder na região estariam perto do fim.

A partir da década de 1920, começaram a surgir no cenário nacional alguns fatores sociais e políticos que contribuíram decisivamente para o declínio e derrocada da República Velha.

Com a chamada “Revolução de 1930”, as oligarquias regionais foram afastadas do poder e as Assembleias Legislativas foram fechadas, dessa vez por cinco anos.

A normalidade constitucional só voltaria ao país em 1934.

Magalhães Barata afilhado político de Lauro Sodré, com a vitória da revolução, deixou a prisão e rumou para Belém, onde assumiu o cargo de Interventor Federal no Pará no dia 12 de novembro de 1930.

Sua chegada à cidade motivou uma grande manifestação popular de apoio.

Promovido a Capitão três dias depois de sua posse como interventor.

O novo Interventor era afilhado politico de Lauro Sodré e não via com bons olhos o poder econômico dos Coronéis José Júlio em Almeirim e Jose Porfirio na região do Xingu, o Interventor Magalhães Barata comandou a repressão ao movimento, sufocando-o com o emprego de forças do Exército, da Marinha, da polícia e do Corpo de Bombeiros.

Devido a seu hábito de percorrer sistematicamente o interior do estado, o Interventor consolidou a capacidade eleitoral de seu partido, conquistando um apoio maciço, que no futuro iria compensar seu pouco prestígio na capital do Estado do Pará.

Porém o tempo conspirava contra a economia da borracha em 1912 foi o começo do fim, a cotação internacional da borracha registra quedas preocupantes, começou a tornar-se um negócio menos atrativo, começou a ficar difícil manter a mesma opulência e ostentação sustentada artificialmente sobre os lucros da borracha inflacionada.

Em Belém seu cunhado Antônio Lemos sofre restrições orçamentárias, ficando difícil governar um menor orçamento para uma gestão acostumada a mais de uma década com fartura e abundância de recurso foi deposto do cargo de Intendente pelos seguidores do então Governador Lauro Sodré, arrastado por vias públicas, Antônio Lemos partiu para o Rio de Janeiro.

Em 1929 a economia mundial é abalada por uma forte crise provocada pela falência da bolsa de valores de Nova York. A crise de 1929 atingiu duramente os Estados Unidos e os países europeus, atingiu duramente a economia do Brasil.

Seu poder já está limitado apenas um cidadão que sentado à beira do rio Xingu numa pousada onde fazia refeição diariamente, já abatido e doente, respirou e lembrou quando pisou na região e se tornou um desbravador de quase todo vale do rio Xingu, fundou estabelecimentos comerciais e feitorias até suas cabeceiras, já nos limites de Mato Grosso, fundou a vila de Vitória, à margem do rio.

Em rodas de conversas com poucos amigos que sobraram depois que saiu da vida pública lembrava que no ano de 1874, em face da Lei nº 811, de 14 de abril de 1874, foi criado o município de Souzel. José Porfírio de Miranda Júnior como seu primeiro Intendente.

Devido à sua grande extensão, Souzel, o maior Município do Estado do Pará, necessitava de uma divisão administrativa, bem como se fazia necessário o estabelecimento de um Governo Municipal no alto Xingu, que era uma região mais desenvolvida do que o baixo Xingu.

Com isso Souzel foi desmembrado e deu origem ao município do Xingu, com sede na cidade de Altamira.

No quadro da divisão administrativa para 1936, o município do Xingu compunha-se de onze distritos, entre eles o de Souzel.

Fonte: O Município de Souzel (Transcrito do livro História e iconografia do Vale do Xingu – de Antonio Ubirajara B. Umbuzeiro). Coronel José Porphirio de Miranda Júnior

  

 

FATOS E ACONTECIMENTOS:

 

1615  - O holandês Jan de Moor, burgomestre de Wieringen, constrói as feitorias de Orange (próximo ao que viria depois a ser Maturu e atualmente Porto de Moz) e Nassau (Gomoaru, que seria depois Itacuruçá - Veiros).

1623  - Bento Maciel Parente, Capitão-Mor do Grão-Pará, empreende ações para expulsar os holandeses e junto com Luís Aranha de Vasconcelos, conquista aos holandeses o ponto fortificado de Mariocai, próximo à foz do Xingu, fundando no local o Forte de Santo Antônio de Gurupá.

1624  1637 - O Padre Luiz Figueira funda Itacuruçá (depois chamada de Veiros) – a principal Missão no Xingu.

1662-1663  - Os padres Pedro Poderoso (ou Pedro Pedroza) e Antonio Ribeiro sobem a Volta Grande.

1750 - O padre Rochus de Hundertpfund explora o Xingu e funda a Missão Tavaquara acima da Volta Grande.

1842  - Príncipe Adalberto explora o rio Xingu até a aldeia de Piranhaquara junto com o padre Torquato Antonio.

1843  1876 - O inglês Henry Wickham rouba 70.000 sementes de seringueira e as leva da Amazônia para a Inglaterra.

1883  - Raymundo Gayoso chega à região acima da Volta Grande com seus escravos.

 1896 - Henri Coudreau, a mando do governador Lauro Sodré, explora o rio Xingu. V. 1911 - Criação do Município de Altamira em 6 de novembro.

1912  - Instalação do Município de Altamira em 1º de janeiro.

1913 - A borracha produzida pelos ingleses nos seringais cultivados na Ásia inundam o mercado mundial quebrando a economia da borracha na Amazônia.

1922  - Os ingleses restringem preços e o preço da borracha sobe no mercado mundial.

1925  - Inauguração da usina de energia elétrica.

 

1934 - Criação da Prelazia do Xingu e chegada de padre Eurico Krautler.

 1942 - Envio dos chamados “soldados da borracha” trazidos pelo SEMTA.

 

1970 - Começa com a construção da Rodovia Transamazônica.

 2012 - Comemorações dos 100 anos de emancipação política de Altamira em 06 de novembro. Deveria ter sido em 01 de janeiro, mas com a mudança feita pela administração de Edmilson Veras nos anos finais da década de 1970, as comemorações mudaram para 06 de novembro.

 

 

CAPITULO IV

 DEVANEIOS DA PERSUASÃO

        As proezas que administrou Souzel com iluminação a gás tentou fazer do Xingu uma recordação francesa, de uma época de extravagância a custo do suor e das mortes dos seringueiros. 

Ainda relembrou sobre a realidade vívida pela maioria dos seringueiros que vieram tentar a sorte na região do Xingu.

Alias, do Nordeste, o falado cabras da peste chegaram ao o seringal, no Rio Xingu, em uma só madrugada foram quase todos devorados pelos índios Urubus.

Certamente ali ele ainda se sentia como o eterno Senador do Xingu.

Sabe-se que tinha um traço marcante, um líder da persuasão com uma capacidade de fazer inimigos ferrenhos, desde que se estalou no portão de entrada do alto Xingu, a própria carreira politica desde Coronel que passou de Intendente de Souzel em 1874, Deputado Federal em 1899 a Senador Estadual em 1904.

Tornou-se durante décadas a maior autoridade da região do Xingu, dominou o panorama político, social e comercial.

Foi sob a batuta do Senador Jose Porfirio que no dia Altamira recebeu foros de cidade, deliciando aos moradores da recém-criada cidade festas de luxo no Clube que levava seu nome, todos usavam um broche com a efígie do Senador.

Seu belo palacete com mobílias vinda da Europa no Forte Ambé era um local onde fazia seus acordos políticos, que ele ostentava seu luxo com um belo jardim iluminado com gás acetileno, que anos depois de sua morte desintegrou-se rapidamente com o vandalismo os curiosos cobiçavam os enfeites, o Prefeito da época mandou demolir tijolo por tijolo, aproveitando todo o material que restou para fazer um muro de um novo cemitério.

Com a invasão crescente de seringueiros, seus seringais progrediram onde  prosperava, e não era apenas o comercio que sustentava sua riqueza alem de possuir grandes áreas de terras planas para a criação de gado, possuía áreas de castanhal, roças e lavouras, fiscalizadas cruelmente por seus capangas tanto no Xingu quanto no Iriri.

Na estrada que liga hoje  Altamira e Vitoria do Xingu, na época chamada de estada oito de janeiro em homenagem ao dia que nasceu sua esposa, possuía uma frota rodante que onde transportava toda produção dos colonos, a seu preço claro....

O clube Social Altamira era um luxo onde servia um bom vinho e apresentava saraus ao som da rebeca, o Senador ali sentava na cadeira de cor dourado e fumava um bom charuto cubano.

Enquanto isso na rua dos tocos hoje Magalhães Barata os seringueiros vinha para cidade gastar o pouco que tinham nos botequins com cachaça e uma farta diversidade de profissionais do sexo.

Foi nestas noites em Altamira que o Velho Senador que ganhava sucessivamente as eleições, contraiu uma gripe aparentemente simples, que se revelou a tuberculose quando bebia em copo de ouro o puro vinho português, ao se deliciar, tossindo em seguida ao ver seu lenço  sujo de sangue, espantou-se e retornou a pensão onde morava.

As dividas contraídas ao longo do tempo com o preço da borracha baixo, perderam inúmeras toneladas na mata, desavenças com seus próprios aliados, mudança de governo, perseguição politica levou a falência.

Desgostoso com a politica, ao não ser mais preferido entre os convidados nas famosas festas da alta sociedade, foi ludibriado no comercio por seus próprios fornecedores, a saúde fraca e a imagem do desalento, caminhando pela orla de Altamira sentiu-se solitário.

Lembrou-se de seu tio um baiano empreendedor e visionário chamado Agrário Cavalcante, dono de muitas terras, que após sua morte tomou o lugar de seu tio.

Em 1896 com a herança de seu tio  se tornou o patrono de toda aquela região, sendo pioneiro no ramo da navegação com lanchas a motor, e seu grande navio “ Rio Xingu”, que fazia viagens regulares a capital Paraense ao se tornar Associado numa grande casa de uma forte casa comercial em Belém.

Meses depois já bastante doente viaja para o Rio de Janeiro junto a sua esposa, jamais voltaria novamente falecendo pouco tempo depois em 1932.

Em 1961, através da Lei nº 2.460 de 29 de dezembro, durante o Governo do Estado do Pará Dr. Aurélio Corrêa do Carmo, o município de Altamira foi desmembrado para reconstituir o município de Souzel, quando adquiriu em definitivo sua emancipação político-administrativa, e foi elevada a categoria de município com a denominação de Senador José Porfírio, em homenagem ao velho Senador do Xingu.

Devido à sua grande extensão, Souzel, o maior Município do Estado do Pará, necessitava de uma divisão administrativa, bem como se fazia necessário o estabelecimento de um Governo Municipal no alto Xingu, que era uma região mais desenvolvida do que o baixo Xingu.

Com isso Souzel foi desmembrado e deu origem ao município do Xingu, com sede na cidade de Altamira.

No quadro da divisão administrativa para 1936, o município do Xingu compunha-se de onze distritos, entre eles o de Souzel. Posteriormente o município do Xingu teve seu nome alterado para Altamira, em face do Decreto- lei nº 2.972, de 31 de março de 1938.

Em 1955 houve uma primeira tentativa de desmembramento do sue território para constituir os municípios de Souzel e São Félix do Xingu, conforme a Lei nº 1.127, de março de 1955, a qual foi considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal.

Porém, em 1961, através da Lei nº 2.460 de 29 de dezembro, durante o governo de Aurélio Corrêa do Carmo, o município de Altamira foi desmembrado para reconstituir o município de Souzel, com o nome de Senador José Porfírio e criar o município de São Félix do Xingu. O município de Senador José Porfírio teve seu território desmembrado para constituir os municípios de Vitória do Xingu, em 13 de dezembro de 1991, pela Lei de Criação nº 5.701, e o município de Anapu, em 28 de dezembro de 1995, através da Lei de Criação nº 5.929, atualmente, apenas do distrito- sede Senador José Porfírio.

O município fica localizado a margem direita do Rio Xingu, é de uma grande exuberância natural, sua sede é conhecida apenas como Souzel, é  a única cidade do estado do Pará que possui uma praia bem na  frente, com tantas belezas naturais  do imponente Rio Xingu.  

Todo escritor deve obrigatoriamente desenvolver duas habilidades fundamentais para que seu livro tenha sentido: a primeira é dar voz aos mortos, falar e viver o que eles viveram, tem a capacidade de se refugiar mentalmente e se deixar levar a cada pagina aquela época, coisa que só se consegue depois de refletir e pensar solitariamente diversas vezes.

Outra coisa e convencer o leitor que aquele livro mostra a realidade da época, as desigualdades sofridas numa época de opressão, onde os oprimidos não tinham defensores. Depois de uma cuidadosa pesquisa consegui concluir este obra, que tenho certeza que será imortalizada, para que este povo da região do Xingu nunca mais deixe que um Coronel domine o poder por tantos anos, porque o poder é somente do povo.

Fontes consultadas:

 

 -Revista Fort Xingu-2009;

-Agenda 21 local Altamira- 2009;

-Professor Ubirajara Marques Umbuzeiro- Altamira e sua História-1999;

-Cesar Pinto da Silva/ Marly Solange Carvalho da Cunha- Os Joses na Republica: alguns apontamentos sobre poder, demarcações e tensões sociais no interior do estado do Pará (1889-1928);

-Jornal Folha do norte data de 16 de abril de 1904-p1;

-Dados do IBGE-2010;

-Ferreira de Castro- A selva;

- Barbara Weinstein- A borracha na Amazônia: expansão e decadência (1850-1920)-EDUSP-1993;

- Vânia Maria Menezes de Figueiredo- Altamira, latitude esperança- 1976;

- Henri Coudreau- Voyage au Xingu- 1896.

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