APRESENTAÇÃO
Quando comecei a escrever esse livro foi uma experiência
muito gratificante, descrever um cotidiano de extrema beleza interiorana, um
conto misturado com senso realista de conflitos sociais.
De um olhar poético e sensível as causas sociais,
misturando sentimentos e descrevendo nas palavras que se transformavam em um
livro consciente e baseado em uma história real, tendo como objetivo fazer o
leitor se questionar sobre sua sociedade que pertence, esta mesma sociedade que
abriga um sistema opressor e desigual.
Tento passar um cotidiano de transformações sociais e
forçar através das palavras ocultas e políticas que não se consegue nada sem
lutar por melhorias e condições sociais para a comunidade em que vivemos.
Espero que o leitor viaje intensamente nos poemas e
perceba que proteger o meio ambiente é um dever de todos nos.
Tendo infiltrado em cada leitor a pergunta: em que lado
do rio você está, do lado dos opressores ou do lado dos oprimidos?
A vida é uma sensação de riscos ou
se molha ou se afoga o certo que tem que se conhecer o outro lado da margem.
Quando as matas se fecham, surge no lugar uma voz que tenta
gritar, um povo que merece viver, anos de tradição levados pela obsessão, aqueles
que trouxeram a desenvolvimento, comprado pelo escambo tradicional.
Palavras enganadas ao povo um grito ecoou nas florestas deste
imenso rio.
Cala-se a voz, é imposto um muro de concreto. É visto de longe um
belo monte de mentiras, desenvolvimento à custa de exploração.
Quando imaginamos que os patrões faziam seu aviamento à custa de
um sistema econômico opressor e injusto...
Os trabalhadores rurais passavam o dia em seus roçados e vendiam o
fruto do seu trabalho a troco de vale.
Os comerciantes que se diziam donos de grandes lotes de terra
colocavam seu preço nas mercadorias e aumentavam o quanto podiam nunca os
trabalhadores pagavam sua dívida.
Primeiro foi às sementes de ucuuba, depois palmito e por ultimo as
toras de madeira.
Passados os anos esses trabalhadores unidos se rebelaram e se
organizaram.
Não teve sangue na luta mais teve luta no dia a dia.
Os patrões se acabaram, as grandes empresas madeireiras faliram,
as casas de comercio e seu sistema hoje está abandonada pelo tempo.
Fizeram representantes legítimos da classe trabalhadora. Com os anos fizeram representantes no legislativo, combatentes a serviço da luta.
A luta se concretizou e o povo venceu e a terra hoje é de todos.
Uns grupos de trabalhadores rurais uniram-se e se organizaram era
uma longa caminhada também estava decidida a luta sem foice e nem martelo mais
frente a frente com as imposições dos patrões.
Um
tempo onde os patrões dominavam a vida econômica e política da região fictícia
chamada ESPERANÇA e o sistema econômico era o aviamento na base do escambo, e o
sistema político era o coronelismo, onde o posseiro era obrigado a votar no
candidato do dono da terra onde o posseiro trabalhava.
A
família trabalhando na roça, o pai cansado de uma noite mariscando tapando
igarapé e despescando com timbó, a mãe fazendo comida, tratando peixe e
amolecendo os caroços de açaí para fazer o vinho tão esperado e as crianças
brincando a beira do rio com um olhar esperançoso ao ver o barulho do rio em
que vem um barco de pequeno calado, encosta no trapiche da casa do trabalhador rural José ( personagem fictício)
.
Era
um dos empregados do latifundiário e comerciante local conhecido como Coronel SILVEIRA( personagem fictício),
que estava convidando para trabalhar, ou seja, intimando já que seu Jose morava
em suas terras.
O
pai da família foi convidado para roçar na casa do patrão dono de uma porção
improdutiva de terras de várzea ao ouvir o convite.
Ficou
segundo pensando em silencio e acocado decidi ir atrás, embarca na canoa se
despedindo da família, com um terçado rabo de galo e uma pedra para amolar
coloca na canoa, arruma no porão da canoa uma panela contendo seu almoço, tira
com uma cuia a água da canoa e embarcando com o remo de pracuuba segue seu
destino.
Com
um porronca acesso, remando há algum tempo, as paisagens do rio são lindas, o
verde das palmeiras do açaizeiro faz a diferença, o barulho da mata batiza o
momento único entre o ser humano e a natureza.
Rio
é longo cheio de estirões e correnteza leva com a força nos braços do pai de
família ao remar com seu remo feito de pracuuba.
Chega
ao porto da casa grande, o patrão já está no comercio atendendo os fregueses,
aviando os posseiros com preços impagáveis.
José
o pai de família amarra sua canoa, no trapiche, subindo com seu material de
trabalho, olha a casa do patrão Lima era feita de madeira de lei e telhas de
barro, pintada a óleo, caminho era novo e velho ao mesmo tempo, entre as paredes
notas antigas e muita mercadoria, o lugar era calmo e sereno mais escondia um
sistema duvidoso economicamente onde os preços eram altos e quase sempre
deixavam seus fregueses ainda mais endividados e forçados a entregar a produção
pelo um preço menor.
Seu José passa pelo patrão com um olhar com
desconfiança, um olhar de dono da situação imagine um comercio lotado de
mercadorias, onde os posseiros se atolavam em dividas.
Fala
cordialmente com os amigos que já estão no local para roçar a área em torno da
casa do patrão, José o pai de família pega seu terçado rabo de galo e sua pedra
para amolar, prepara o instrumento e começa a trabalhar.
Era
sol de meio dia, os rostos dos trabalhadores suando, um olhar sem esperança
mais ativo ao horizonte, o barulho do mato grande não dá tempo de se esquivar
era a serpente que encontraria seu calcanhar, a dor era insuportável era o
sangue que sai de sua perna e se misturava na terra, era os companheiros que
acudiram, mais não do tempo.
A
temida jararaca venenosa, não deu tempo de chegar a cidade atravessaram o rio
sob tormenta e dor, seu José gritava, mais em seu pensamento vinha a dor maior
sua família, pois sabia que ia ter que deixar em poucas horas.
Os
olhos do pai de família se fecham a dor do luto de seus familiares e o patrão
intacto não reconhece e apenas fecha a porta de sua casa, alguma hora depois
estava no comercio aviando seus fregueses era um dia de luto a morte daquele
trabalhador fez seus filhos lutarem por dias melhores.
OS ANOS SE PASSAM...
A casa de madeira coberta de palha, ponte de
tala de açaizeiro, a terra emprestada onde roçava, tirava madeira e pescava no
rio, o cenário não mudaria era a continuação do opressor contra o oprimido, uma
época de medo e sem consciência política, onde o povo vivia na escuridão
intelectual dos seus direitos, onde o grito era calado com a força dos patrões.
Era o dia de abastecer a dispensa, era o dia
de ir à casa do patrão, preparam-se a família para remar horas pelo estirão de
rio, as crianças com um olhar de temer afinal era o patrão.
A chefa da família viúva coloca o remo na
canoa, era 13hs o sol estavam beirando os 32 graus, a localidade fictícia ESPERANÇA
estava agitada se preparando para um temporal.
Remando há quase duas horas chega-se a casa
do patrão, fazia muito tempo que seu esposo tinha falecido naquele local, as
crianças desembarcam com certo medo, pois as dívidas da família estavam
atrasadas, as crianças ficaram atrás da mãe enquanto ela esperava o patrão
jogar baralho no pátio de sua residência, com os amigos.
Depois de horas esperando, ele resolve
atende-la com certa arrogância e indiferença social, gesticulando e com um tom
ameaçador, ao mesmo tempo em que atende a viúva despachando sua nota de
mercadorias pelo meio.
As crianças com medo do tom do patrão estavam
assustadas, entre elas um menino de quase oito anos, com uma roupa bem usada
estava descalço e de cabelos grande, um olhar no horizonte observa com temor
toda aquela situação.
A família da viúva embarca na canoa com as
mercadorias, e retornam para sua casa, afinal levavam a farinha, querosene e
demais mantimentos que davam para se manter até pagar a dívida no sistema de
escambo, o olhar da mãe ficou marcado na vida deste menino... Chamado JOSÉ
MARIA( filho de José, personagem fictício).
Anos se passam esta família passou muita
fome, tiveram que aprender desde cedo a caçar, pescar e tirar açaí, tirar
madeira em troncos com machado e fazer roça para sobreviver.
Os anos se passam este menino chamado JOSÉ
MARIA, foi estudar fora do município como Seminarista na cidade de BOA VISTA( cidade
fictícia), bem distante da família e passa a viver a efervescência do movimento
social da época.
A luta pela terra e conscientização de seus
direitos e deveres baseado na constituição universal dos direitos humanos,
retorna a sua terra natal e passa a atuar diretamente na fundação partidária e na
conquista dos trabalhadores rurais.
Um tempo de lutas sociais na localidade ESPERANÇA
e estuda o estatuto da terra. As
conquistas são feitas a parti do momento em que o povo conhece seus direitos, a
luta pela terra baseada no estatuto da terra provocou a tomada do sindicato dos
Trabalhadores rurais dos pelegos.
O povo estava se organizando em comunidades
eclesiais de base, preparando e formando lideranças, a união de pensamentos
contra a exploração do trabalhador foi à ideia de fundar um partido político
para tomar o poder dos patrões, seria o ponto de partida para revolucionar a
época.
Reuniões intensas foram debatidas,
candidaturas forma definidas entre encontros em 1980 lança para candidato ANTÔNIO
COSTA( personagem fictício), sendo derrotados pela elite econômica da época
composta por latifundiários improdutivos, mesmo assim não desistiram da luta e
elegeram dois companheiros para o legislativo municipal legítimos
representantes da localidade ESPERANÇA e da localidade NOVO HORIZONTE( local fictício).
Tornando uma grande força sindical com a
tomada do sindicato dos trabalhadores rurais, nas eleições posteriores foi às
urnas para o pleito municipal elegendo o candidato ANTONIO COSTA e oposição às famílias
tradicionais latifundiários da região, de origem rural com a conscientização
feita com trabalho de base elegeu um trabalhador rural para Prefeito de ESPERANÇA.
Ao entrar na Sede do Poder Municipal de ESPERANÇA,
aquele menino JOSÉ MARIA filho de JOSÉ tinha crescido e fazia parte do governo
municipal, sentou-se na cadeira da Chefia de Gabinete do Prefeito e ali usaria
sua razão e emoção para fazer de uma reflexão uma lição de vida.
Aquele mesmo patrão que um dia humilhou sua
família CORONEL SILVEIRA retornaria ao cenário atual da vida daquele menino que
se tornou Chefe de Gabinete do Prefeito eleito pelo povo e teria que atende-lo.
Olhou
de sua sala e toda aquela situação de opressão retornaria em seu pensamento, ficaram
alguns minutos lembrando tudo que presenciou essa época onde a vida dos
seringueiros era sofrida e saiam para trabalhar entre as 04 horas da manhã ou
05 horas da manhã os seringueiros saiam para coletar o látex, obedeciam ao
sistema injusto do aviamento de mercadorias a credito, com preços altos.
O patrão cedia ao seringueiro mantimentos e
material de trabalho como botas, terçado, querosene e tabaco, e o seringueiro
pagaria a dívida com a produção de borracha, o preço das mercadorias era
injusto e nunca o seringueiro conseguia pagar sua dívida.
Depois de retirar o látex da árvore peneira
o liquido tirando as impurezas e adicionando o agente vulcanizador é levado ao
fogo por uma hora.
O látex era adicionado ainda na mata com
água de cinza, um conservante natural que impede a coagulação.
Os posseiros
burlavam e vendiam para os regatões que passavam, o comercio clandestino entre
os posseiros e donos das embarcações ficaram altamente perigosos e a força
regional passou a multar os donos de regatões, na época CORONEL SILVEIRA era o
maior comerciante de ESPERANÇA.
Foi uma época onde
os posseiros vivam numa situação da escravidão dos seringueiros que trabalhavam
no seringal do comerciante CORONEL SILVEIRA que se dizia dono de uma extensa
faixa de terra ficou claro a desigualdade e crueldade com o povo de menor renda.
Veio em seus pensamentos aquela luta diária
para tirar a colheita do açaí é
praticada por muitas famílias, sendo destinado ao consumo familiar.
O trabalho era feito frequentemente com seus
irmãos, uma para subir nos açaizeiros
e colher os cachos e outra para debulhar
os frutos, colocando o açaí em peneiros.
Uma lágrima chegou a cair em seus olhos
lagrimados, olhou para cima e mandou chamar o velho CORONEL SILVEIRA em vez de
usar o sentimento de raiva que sentia, usou a cordialidade e atendeu aquele que
um dia foi seu opressor.
"Pois, se perdoardes aos homens as suas ofensas, assim também vosso Pai celeste vos perdoará. Entretanto, se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas". (Mateus, 6, 14-15).