O velho Senador do Xingu, uma crítica social.
Nesta obra, tento passar através de dados históricos uma biografia não autorizada, sem descendente direto, foi preciso mergulhar e viver nesta região em que o velho Senador Estadual que fez amigos e inimigos.
Agradeço a cada leitor, permita-me a dizer é um livro que marca uma
época de glamour na região do Xingu, fazendo o leitor mergulhar numa sociedade
dividida, opressora e custeada pelo sangue e suor dos menos favorecidos.
Escrever sobre a história da região do Xingu é algo fantástico, é como
viver aquela época da ascensão a queda de um Coronel que tinha tantos
admiradores como inimigos políticos, teve uma vida de luxo ao mesmo tempo
simples ao querer transformar uma região até então apenas de mata fechada em
uma região prospera, José Porfírio de Miranda Júnior, foi um político da
República velha.
Passei três meses pesquisando na cidade de Altamira em 2017 nos meses de
fevereiro, março e abril, residindo em um quarto solteiro de uma pensão em
frente rodoviária municipal. Foram longas noites digitando, lendo e na
imaginação me colocando no contexto social da época, vivendo e passando pelos
locais citados no livro, conversando com pessoas desconhecidas e observando as
lindas paisagens do Xingu das longas viagens marítimas de Gurupá para cidade de
Vitória do Xingu. Concluindo essa obra com olhar diferenciado de crítica
social.
Autor
CAPITULO I
O IMPONENTE RIO XINGU, ALI NASCEU UM
SONHO.
A origem histórica do atual município de Senador José Porfírio está
relacionada com o antigo município de Souzel.
Sabe-se, entretanto, que antes de 1750, as antigas missões dos jesuítas
da Companhia de Jesus, foram as que levaram os primeiros traços de civilização
ao Xingu, após vencerem, por terra, a Volta Grande daquele rio.
Ali se estabeleceram, fundaram uma missão e abriram uma estrada
primitiva, fazendo a ligação entre essa missão e a localidade de Cachoeira, no
rio Tucuruí.
Após a expulsão dos jesuítas, esta estrada ficou praticamente abandonada
e foram posteriormente reconstruídas, em 1868, pela missão dos Capuchos da
Piedade dos frades Ludovico e Carmelo de Mazzarino.
Ao se instalarem na antiga missão dos jesuítas, os Capuchinhos reergueram-na
e, contando com um número maior de índios de diferentes tribos, promoveram o
seu crescimento e desenvolvimento.
Com essa missão, estabeleceram-se os fundamentos do povoamento, à margem
esquerda do rio Xingu, acima da foz do rio Ambé que, ao se desenvolver,
transformou-se no povoado de Altamira, e, mais tarde na vila de Altamira.
Não se sabe, entretanto, a data precisa em que o povoado foi fundado.
Pela tradição deixada pelos capuchinhos, o major Leocádio de Souza viu a
possibilidade de reconstruir o caminho, não mais de Cachoeira, porém, da foz do
rio Tucuruí até o povoado de Altamira, porém sua expedição não obteve êxito.
Posteriormente, em 1880 o Coronel Gaioso tomou a empreitada, juntamente
com seus escravos, iniciando a abertura de uma boa estrada de rodagem, até a
embocadura do rio Ambé, que ficou paralisada e perdida em consequência da Lei
Áurea, que o privou de sua escravaria.
O baiano Agrário Cavalcante dando continuidade à tarefa, na parte
relativa à abertura da estrada para o Ambé, não conseguiu, porém ver seus
esforços coroados de resultados, por seu falecimento. Seu sobrinho José
Porfírio de Miranda Júnior concluiu definitivamente a grande via e adquiriu a
sua propriedade e lhe deu prosperidade.
Desenvolveu ao máximo os seus negócios da região, sendo o maior produtor
de borracha e caucho no Pará, introduzindo métodos dos mais modernos à época,
para incremento de suas atividades.
Em face da Lei n.º 811, de 14 de abril de 1874, foi criado o município
de Souzel.
Sendo eleito de forma duvidosa sem registro eleitoral o Sr. José
Porfírio de Miranda Júnior como seu Intendente municipal, cargo que hoje se
refere a Prefeito municipal, como Intendente de Souzel, dotou o município de
melhoramentos para a época, tais como iluminação a gás, serviço de limpeza
urbana, além de um majestoso edifício para sede da municipalidade e a Igreja
Matriz, hoje em ruínas.
Deixando a Intendência foi eleito Senador Estadual, sendo reeleito
sucessivamente comprando votos e apoio, através de barganhas politicas e
intimidação com o povo local até o ano de 1930, quando foram extintos os
Senados estaduais, por força da Revolução de outubro.
CAPITULO II
UMA ÉPOCA DE CORONÉIS
Entre as 4 horas da
manha ou 5 horas da manhã os seringueiros saiam para coletar o látex, obedeciam
ao sistema injusto do aviamento de mercadorias a credito, com preços altos.
O patrão cedia ao seringueiro mantimentos e material de trabalho como
botas, terçado, querosene e tabaco, e o seringueiro pagaria a divida com a
produção de borracha, o preço das mercadorias era injusto e nunca o seringueiro
conseguia pagar sua divida.
Depois de retirar o látex da árvore peneira o liquido tirando as
impurezas e adicionando o agente vulcanizador é levado ao fogo por uma hora.
O látex era adicionado ainda na mata com água de cinza, um conservante
natural que impede a coagulação.
O contraste existente entre os modos de vida revelados seja na suntuosa
construção do casarão, em comparação a simples morada do seringueiro, até a
forma de comercio desigual e combinada imposta aos seringueiros da época pelo
patrão seringalista.
Era um cenário estabelecido por uma liderança politica que se
intitulavam dono de vários seringais e extensão propriedades de terras era o
senhor José Porphirio de Miranda Júnior, que alcançou cargos expressivos na
politica, de Intendente ao Senado Estadual do Pará.
Ao adquirir o Titulo Honorifico Militar do exercito da Guarda Nacional
de Coronel.
Valendo-se de alianças políticas e familiares para barganhar terras e
prestigio assim como no caso do Jarí o Coronel José Júlio se casou com a filha
do Intendente Municipal de Almeirim a Sra. Laura Neno.
Na situação do Xingu foi à aliança politica com o Senador Antônio Lemos
então força politica no Estado do Pará, o político José Porphirio casou-se com
a sobrinha do Senador Antônio Lemos, a Sra. Rosalina Lemos.
Para explicar todo processo de barganha politica, citamos a República
com suas terras devolutas que antes faziam parte do patrimônio da Coroa, passou
a pertencer ao estado, à constituição de 1891 em seu artigo 64, apenas deixou
sob tutela da União as faixas de terras necessárias para a defesa das
fronteiras, fortificações, construções militares e estrada federais, dando
autonomia ao estado fazendo herdeiros do grave problema fundiário.
No Estado do Pará foi delegado as Intendências Municipais as demarcações
e os registros de terras e suas posses o que transformava em um ato de
concessão pessoal, virando uma troca de favores políticos na região; Acumulando
assim posses de terras e favorecendo seus afilhados políticos.
A situação da escravidão dos seringueiros que trabalhavam no seringal do
Intendente de Souzel ficou claro a desigualdade e crueldade com o povo de menor
renda, a fuga do seringueiro na região do Xingu era difícil tanto pela
geografia do local que permitia a fiscalização dos jagunços do
Intendente.
Seu imponente palacete em estilo europeu, com mobílias de madeira em
lei, deitado na rede liderava um povo, entre admiradores, servos e inimigos
políticos, criava-se ali um personagem que marcaria a historia da região do
Xingu.
Seu palacete com jardim e iluminação a gás acetileno, no auge de sua
trajetória, palco de acertos políticos e festas na sociedade composta por seus
apadrinhados, a custo do suor, sangue do trabalho escravo vindo das matas, os
gritos de horrores traduzidos em silêncios e covas rasas sem identificação.
Como Intendente de Souzel, foi um excelente administrador público neste
período o município teve iluminação a gás, serviço de limpeza urbana, além de
mandar construir um majestoso edifício para sede da municipalidade e a Igreja
Matriz.
Festas e mais festa com as famílias tradicionais e convidados de honra,
fumava seu charuto cubano e tinha servas sexuais para as noites de inverno
amazônico.
Uma goma extraída da seringueira (hevea brasiliensis), o produto
comercial adquiriu importância na atividade automobilística que teve impulso
econômico, social e principalmente nas cidades de Belém e Manaus.
Muitos nordestinos foram para região amazônica com o sonho de uma vida
melhor, o governo federal estimulou a imigração das famílias.
Quando as matas se fecham, surge no lugar uma voz que tenta gritar, um
povo que merece viver, anos de tradição levados pela obsessão, aqueles que
trouxeram a desenvolvimento, comprado pelo escambo tradicional; Palavras
enganadas ao povo um grito ecoou nas florestas deste imenso rio.
Cala-se a voz, é imposto um muro visto de longe como fachada do
desenvolvimento à custa de exploração.
Quando imaginamos que os patrões faziam seu aviamento à custa de um
sistema econômico opressor e injusto...
Os Seringueiros passavam o dia tirando o látex nas estradas de
seringueiras e vendiam o fruto do seu trabalho a troco de vale.
O dono do Comercio era o famoso patrão, que era subordinado ao
Coronel José Porfirio que se dizia dono de grandes lotes de terra, colocavam
seu preço nas mercadorias e aumentavam o quanto podiam nunca os trabalhadores
pagavam sua dívida.
Um tempo onde os Coronéis dominavam a vida econômica e política da
região, onde o sistema econômico era o aviamento na base do escambo, e o
sistema político era o coronelismo, onde o posseiro e seringueiros eram
obrigados a votar no candidato do dono da terra onde o posseiro trabalhava.
A casa do patrão chamada de barracão era feita de madeira de lei e
telhas de barro, pintada a óleo de branco e azul ao lado a casa que servia de
comercio, entre as paredes muita mercadoria, o lugar era calmo e sereno mais
escondia um sistema duvidoso economicamente onde os preços eram altos e quase
sempre deixavam os seringueiros ainda mais endividados e forçados a entregar a
produção pelo um preço menor.
O comercio lotado de mercadorias, onde os posseiros se atolavam em
dividas, Ainda vendiam cachaça e querosene a preço de ouro.
A casa do seringueiro era na mata distante do barracão do patrão, perto
das estradas de seringueira, coberta de palha, ponte de tala de açaizeiro, a
terra emprestada onde roçava, e pescava no rio, o cenário não mudaria era a
continuação do opressor contra o oprimido, uma época de medo e sem consciência
política, onde o povo vivia na escuridão intelectual dos seus direitos, onde o
grito era calado com a força dos patrões.
Onde alem dos perigos da mata como as onças, os índios que eram os
verdadeiros donos das terras ali exploradas, entre dias e semanas exaustivas
eram comuns desaparecer seringueiros na mata e serem encontrados mortos e
decapitados pelos índios Araras.
Quantos nordestinos, sobretudo, que abandonavam a zona da mata devido à
avassaladora seca aceitavam, então, as condições de um trabalho desumano nos
seringais da região do Xingu.
A vida dos seringueiros era dura, era um trabalho solitário, só vinham
na sede do casarão, para trazer a produção e trocar por instrumento de trabalho
e comida como carne seca, feijão, arroz e sal.
O endividamento era eterno, no barracão de aviamento o Seringalista dono
do seringal estipulava o preço das mercadorias e quando um seringueiro começava
e tiver saldo era oferecida cachaça.
Coronel José Porfirio controlava todos seus fregueses, suas supostas
propriedades rurais, cada palmo de terra era percorrido, em sua casa perto do
forte do Ambé, era um recanto ao estilo europeu.
Paredes com molduras e porta retratos em ouro, mesa de madeira de lei
com varias cadeiras, cristais franceses e um piano alemão, um tempo áureo da
borracha, luxo e riqueza, poder e desigualdade social.
A feição do seringueiro era impiedosa, a pele envelhecida e sonhos
distantes, daqueles que nunca mais voltaram a sua terra, morrendo em pouco
tempo ou era de malária ou da má alimentação e as condições desumanas de
trabalho.
O processo da coleta do látex era cortado de noite devido à frieza de
não poder pegar a quentura que transforma leite em borracha, a casa de
defumação era onde o seringueiro fazia o processo de defumação e com o
calor e a fumaça trazia doenças pulmonares.
Os capangas do Gerente do Seringal eram impiedosos, sempre nas matas a
vigiar os seringueiros, e quando um tentava escapar pela mata eram mortos a
tiros ou castigado.
O Coronel José Porfirio estende seu poder na região, com a patente de
militar comprado da antiga Guarda Nacional, se torna Intermediário com o
Governador do Estado para buscar votos, envolvendo a riqueza em busca de se
manter no poder, candidatando a Senador Estadual.
Com seu exercito particular e seus apoiadores de famílias tradicionais
na época, mantendo apoio aos latifundiários da região.
Com seu poder de persuasão delegava tarefas sem estar no meio do povo
mandava fazer o alistamento eleitoral, através dos cabos eleitorais do Coronel
José Porfirio, como a maioria da população era analfabeta, era preciso fazer um
requerimento do próprio punho do Seringueiro, na época o voto não era secreto e
todos tinham que votar no Coronel, este era o segredo de nunca ter perdido uma
eleição.
Enquanto o Coronel vivia no luxo e no poder, nas estradas de seringais
os seringueiros morriam de malária, eram constantemente ameaçados pelos
jagunços do Gerente dos Seringais pela baixa produção, a qualidade do látex
péssima, cortes mal feitos escorria numa recipientes de alumínio que acumulava
o liquido, o preço desvalorizado.
O PODER SENDO SUBSTITUÍDO
O barco da frota do Senador José Porfirio chamado de
“Rio Xingu”, vinha buscar a produção no porto de Vitória do Xingu, cada viagem
para Belém diminuía a produção.
Em Almeirim o poder do Coronel José Júlio também estava decaindo com
revolta de trabalhadores, acima das terras de Almeirim em Belterra na fábrica de
Fordlandia houve uma grande manifestação dos trabalhadores conhecido como
“quebra panelas”.
Já nos seringais do Coronel, eram comuns emboscados dos índios matando
os seringueiros, em confrontos os seringueiros para se defender matavam os
índios, a presença de novos políticos na região e novas mentalidades trazidas
da Europa e das manifestações da capital paraense, o Senador começou a perceber
que seu poder estava em decadência.
Nas festas promovidas em Altamira nos clubes sociais não usavam mais os
broches com sua esfinge, tornou-se um defensor da emancipação da vila de
Altamira.
Em sua trajetória politica era aliado do Intendente Antônio lemos,
acumulou vários opositores conhecido como Laurista ou seja seguidores do
Governador do Estado do Pará Lauro Sodré. Entendendo
que a educação era única forma de tirar o povo da ignorância, introduzindo no
Pará a municipalização do ensino.
Seu Governo liberou recursos e as prefeituras
construíram escolas. Isso que os coronéis e seringalistas da região não queriam,
quando o povo começa a ler e escrever começa a conhecer seus direitos e
busca-lo usufruir.
O Coronel José Porphirio de Miranda Junior, após ficar viúvo, casou pela
segunda vez com Rosalina Lemos, sobrinha do senador Antônio Lemos, ao que
parece, não mediu esforços para entrar na família; pois segundo rumores da
região do Xingu, José Porphirio sobre sua participação na morte de sua primeira
esposa para poder casar-se com Rosalina Lemos.
O coronelismo clássico que praticava com uma mistura assistencialista
quando se tinha interesse, sua esposa morava numa luxuosa casa no Rio de
Janeiro na época capital do Brasil, nunca morou na região do Xingu.
Os jornais paraenses tratavam o Coronel José Porphirio no Xingu, o
descrevem como: “dominador e imperial senhor (...) feudatário da região”.
Na região do Xingu a fuga dos seringueiros se tornava mais difícil em
virtude da geografia local, cheio de cachoeiras e com poucas possibilidades de
acesso, o que permitia maior fiscalização sobre a circulação dos trabalhadores.
Segundo as noticias publicada na Folha do Norte no ano de 1904 divulgava
as crueldades praticadas, desta vez nas propriedades de José Porphirio.
O jornalista enfatizava que na região do Xingu era costumeira a prática
de assassinatos, na mesma frequência em que se tomava um copo d'água, no caso
em que o guarda livro do estabelecimento comercial do dito seringalista mandou
“amarrar o infeliz e ordenou que lhe desse uma surra de umbigo de boi”. Durante
a surra “o desventurado exalou o último suspiro”.
Com o desenvolvimento da região apareceu um novo modelo de compra e
venda através dos regatões eram os comerciantes que em barcos percorriam o rio
Xingu para vender ou trocar mercadorias, o que permitia aos trabalhadores
fugirem do esquema de compra e venda de mercadorias realizadas nos barracões de
propriedade dos patrões, conhecido como aviamento.
A borracha utilizada para troca nos regatões pelos trabalhadores era
fruto do desvio de parte da produção que deveria ser repassado aos patrões,
comércio clandestino que causava preocupação.
Na região do Xingu por ordem do Coronel José Porfirio foi
estabelecida a aplicação de multas aos comerciantes de regatão.
O Coronel José Porphirio era o maior comerciante seringalista da
região, portanto um dos principais interessados na extinção desse tipo de
comércio.
Começando a dividir seu poder, tornando vulnerável com o novo sistema
econômico imposto na região.
Com a queda do preço da borracha, e a perda de toneladas depositadas nos
seringais da região, o Coronel José Porfirio começa a ter muitos prejuízos onde
é forçado a vender algumas propriedades e seus próprios Gerentes, é passa a
morar numa pousada em Altamira, já com uma idade avançada e sozinho, já que sua
família mora no Rio de Janeiro.
O Senado estadual, no Brasil,
era uma das casas do poder legislativo dos estados durante
a República Velha, sendo extinto no ano de 1930,
Senador Jose Porfirio passa a prever que seus dias de poder na região estariam
perto do fim.
A partir da década de 1920, começaram a surgir no cenário nacional
alguns fatores sociais e políticos que contribuíram decisivamente para o
declínio e derrocada da República Velha.
Com a chamada “Revolução de 1930”, as oligarquias regionais foram
afastadas do poder e as Assembleias Legislativas foram fechadas, dessa vez por
cinco anos.
A normalidade constitucional só voltaria ao país em 1934.
Magalhães Barata afilhado político de Lauro Sodré, com a vitória da
revolução, deixou a prisão e rumou para Belém, onde assumiu o cargo de
Interventor Federal no Pará no dia 12 de novembro de 1930.
Sua chegada à cidade motivou uma grande manifestação popular de apoio.
Promovido a Capitão três dias depois de sua posse como interventor.
O novo Interventor era afilhado politico de Lauro Sodré e não via com
bons olhos o poder econômico dos Coronéis José Júlio em Almeirim e Jose
Porfirio na região do Xingu, o Interventor Magalhães Barata comandou a
repressão ao movimento, sufocando-o com o emprego de forças do Exército, da
Marinha, da polícia e do Corpo de Bombeiros.
Devido a seu hábito de percorrer sistematicamente o interior do estado,
o Interventor consolidou a capacidade eleitoral de seu partido, conquistando um
apoio maciço, que no futuro iria compensar seu pouco prestígio na capital do
Estado do Pará.
Porém o tempo conspirava contra a
economia da borracha em 1912 foi
o começo do fim, a cotação internacional
da borracha registra quedas preocupantes, começou a tornar-se um negócio menos
atrativo, começou a ficar difícil manter a mesma opulência e ostentação
sustentada artificialmente sobre os lucros da borracha inflacionada.
Em Belém seu cunhado Antônio Lemos
sofre restrições orçamentárias, ficando difícil governar um
menor orçamento para uma gestão acostumada a mais de uma década com fartura e abundância de recurso foi deposto do
cargo de Intendente pelos seguidores do então Governador Lauro Sodré,
arrastado por vias públicas, Antônio Lemos partiu para o Rio de Janeiro.
Em 1929 a economia mundial é abalada por uma
forte crise provocada pela falência da bolsa de valores de Nova York. A crise
de 1929 atingiu duramente os Estados Unidos e os países europeus, atingiu
duramente a economia do Brasil.
Seu poder já está limitado apenas um cidadão que sentado à beira do rio
Xingu numa pousada onde fazia refeição diariamente, já abatido e doente,
respirou e lembrou quando pisou na região e se tornou um desbravador de quase
todo vale do rio Xingu, fundou estabelecimentos comerciais e feitorias até suas
cabeceiras, já nos limites de Mato Grosso, fundou a vila de Vitória, à margem
do rio.
Em rodas de conversas com poucos amigos que sobraram depois que saiu da
vida pública lembrava que no ano de 1874, em face da Lei nº 811, de 14 de abril
de 1874, foi criado o município de Souzel. José Porfírio de Miranda Júnior como
seu primeiro Intendente.
Devido à sua grande extensão, Souzel, o maior Município do Estado do
Pará, necessitava de uma divisão administrativa, bem como se fazia necessário o
estabelecimento de um Governo Municipal no alto Xingu, que era uma região mais
desenvolvida do que o baixo Xingu.
Com isso Souzel foi desmembrado e deu origem ao município do Xingu, com
sede na cidade de Altamira.
No quadro da divisão administrativa para 1936, o município do Xingu
compunha-se de onze distritos, entre eles o de Souzel.
Fonte: O Município de Souzel (Transcrito do
livro História e iconografia do Vale do Xingu – de Antonio Ubirajara B.
Umbuzeiro). Coronel José Porphirio de Miranda Júnior
FATOS E ACONTECIMENTOS:
1615 - O holandês Jan de
Moor, burgomestre de Wieringen, constrói as feitorias de Orange (próximo ao que
viria depois a ser Maturu e atualmente Porto de Moz) e Nassau (Gomoaru, que
seria depois Itacuruçá - Veiros).
1623 - Bento Maciel
Parente, Capitão-Mor do Grão-Pará, empreende ações para expulsar os holandeses
e junto com Luís Aranha de Vasconcelos, conquista aos holandeses o ponto
fortificado de Mariocai, próximo à foz do Xingu, fundando no local o Forte de
Santo Antônio de Gurupá.
1624 1637 - O Padre Luiz
Figueira funda Itacuruçá (depois chamada de Veiros) – a principal Missão no
Xingu.
1662-1663
- Os padres Pedro Poderoso (ou Pedro Pedroza) e Antonio Ribeiro
sobem a Volta Grande.
1750 - O padre Rochus de Hundertpfund explora o Xingu e funda a
Missão Tavaquara acima da Volta Grande.
1842 - Príncipe Adalberto
explora o rio Xingu até a aldeia de Piranhaquara junto com o padre Torquato
Antonio.
1843 1876 - O inglês Henry
Wickham rouba 70.000 sementes de seringueira e as leva da Amazônia para a
Inglaterra.
1883 - Raymundo Gayoso chega
à região acima da Volta Grande com seus escravos.
1896 - Henri
Coudreau, a mando do governador Lauro Sodré, explora o rio Xingu. V. 1911 - Criação do
Município de Altamira em 6 de novembro.
1912 - Instalação do
Município de Altamira em 1º de janeiro.
1913 - A borracha produzida pelos ingleses nos seringais
cultivados na Ásia inundam o mercado mundial quebrando a economia da borracha
na Amazônia.
1922 - Os ingleses
restringem preços e o preço da borracha sobe no mercado mundial.
1925 - Inauguração da
usina de energia elétrica.
1934 - Criação da Prelazia do Xingu e chegada de padre Eurico
Krautler.
1942 - Envio dos
chamados “soldados da borracha” trazidos pelo SEMTA.
1970 - Começa com a construção da Rodovia Transamazônica.
2012 - Comemorações
dos 100 anos de emancipação política de Altamira em 06 de novembro. Deveria ter
sido em 01 de janeiro, mas com a mudança feita pela administração de Edmilson
Veras nos anos finais da década de 1970, as comemorações mudaram para 06 de
novembro.
CAPITULO IV
DEVANEIOS DA PERSUASÃO
As proezas que administrou Souzel com iluminação a gás tentou fazer
do Xingu uma recordação francesa, de uma época de extravagância a custo do suor
e das mortes dos seringueiros.
Ainda relembrou sobre a realidade vívida pela
maioria dos seringueiros que vieram tentar a sorte na região do Xingu.
Alias, do Nordeste, o falado cabras da peste
chegaram ao o seringal, no Rio Xingu, em uma só madrugada foram quase todos devorados
pelos índios Urubus.
Certamente ali ele ainda se sentia como o eterno
Senador do Xingu.
Sabe-se que tinha um traço marcante, um líder da persuasão com uma
capacidade de fazer inimigos ferrenhos, desde que se estalou no portão de
entrada do alto Xingu, a própria carreira politica desde Coronel que passou de
Intendente de Souzel em 1874, Deputado Federal em 1899 a Senador Estadual em
1904.
Tornou-se durante décadas a maior autoridade da região do Xingu, dominou
o panorama político, social e comercial.
Foi sob a batuta do Senador Jose Porfirio que no dia Altamira recebeu
foros de cidade, deliciando aos moradores da recém-criada cidade festas de luxo
no Clube que levava seu nome, todos usavam um broche com a efígie do Senador.
Seu belo palacete com mobílias vinda da Europa no Forte Ambé era um
local onde fazia seus acordos políticos, que ele ostentava seu luxo com um belo
jardim iluminado com gás acetileno, que anos depois de sua morte desintegrou-se
rapidamente com o vandalismo os curiosos cobiçavam os enfeites, o Prefeito da
época mandou demolir tijolo por tijolo, aproveitando todo o material que restou
para fazer um muro de um novo cemitério.
Com a invasão crescente de seringueiros, seus seringais progrediram
onde prosperava, e não era apenas o comercio que sustentava sua riqueza
alem de possuir grandes áreas de terras planas para a criação de gado, possuía
áreas de castanhal, roças e lavouras, fiscalizadas cruelmente por seus capangas
tanto no Xingu quanto no Iriri.
Na estrada que liga hoje Altamira e Vitoria do Xingu, na época
chamada de estada oito de janeiro em homenagem ao dia que nasceu sua esposa,
possuía uma frota rodante que onde transportava toda produção dos colonos, a
seu preço claro....
O clube Social Altamira era um luxo onde servia um bom vinho e
apresentava saraus ao som da rebeca, o Senador ali sentava na cadeira de cor
dourado e fumava um bom charuto cubano.
Enquanto isso na rua dos tocos hoje Magalhães Barata os seringueiros
vinha para cidade gastar o pouco que tinham nos botequins com cachaça e uma
farta diversidade de profissionais do sexo.
Foi nestas noites em Altamira que o Velho Senador que ganhava
sucessivamente as eleições, contraiu uma gripe aparentemente simples, que se
revelou a tuberculose quando bebia em copo de ouro o puro vinho português, ao
se deliciar, tossindo em seguida ao ver seu lenço sujo de sangue,
espantou-se e retornou a pensão onde morava.
As dividas contraídas ao longo do tempo com o preço da borracha baixo,
perderam inúmeras toneladas na mata, desavenças com seus próprios aliados,
mudança de governo, perseguição politica levou a falência.
Desgostoso com a politica, ao não ser mais preferido entre os convidados
nas famosas festas da alta sociedade, foi ludibriado no comercio por seus
próprios fornecedores, a saúde fraca e a imagem do desalento, caminhando pela
orla de Altamira sentiu-se solitário.
Lembrou-se de seu tio um baiano empreendedor e visionário chamado
Agrário Cavalcante, dono de muitas terras, que após sua morte tomou o lugar de
seu tio.
Em 1896 com a herança de seu tio se tornou o patrono de toda
aquela região, sendo pioneiro no ramo da navegação com lanchas a motor, e seu
grande navio “ Rio Xingu”, que fazia viagens regulares a capital Paraense ao se
tornar Associado numa grande casa de uma forte casa comercial em Belém.
Meses depois já bastante doente viaja para o Rio de Janeiro junto a sua
esposa, jamais voltaria novamente falecendo pouco tempo depois em 1932.
Em 1961, através da Lei nº 2.460 de 29 de dezembro,
durante o Governo do Estado do Pará Dr. Aurélio Corrêa do Carmo, o município de
Altamira foi desmembrado para reconstituir o município de Souzel, quando
adquiriu em definitivo sua emancipação político-administrativa, e foi elevada a
categoria de município com a denominação de Senador José Porfírio, em homenagem
ao velho Senador do Xingu.
Devido à sua grande extensão, Souzel, o maior Município do Estado do
Pará, necessitava de uma divisão administrativa, bem como se fazia necessário o
estabelecimento de um Governo Municipal no alto Xingu, que era uma região mais
desenvolvida do que o baixo Xingu.
Com isso Souzel foi desmembrado e deu origem ao município do Xingu, com
sede na cidade de Altamira.
No quadro da divisão administrativa para 1936, o município do Xingu
compunha-se de onze distritos, entre eles o de Souzel. Posteriormente o
município do Xingu teve seu nome alterado para Altamira, em face do Decreto-
lei nº 2.972, de 31 de março de 1938.
Em 1955 houve uma primeira tentativa de desmembramento do sue território
para constituir os municípios de Souzel e São Félix do Xingu, conforme a Lei nº
1.127, de março de 1955, a qual foi considerada inconstitucional pelo Supremo
Tribunal Federal.
Porém, em 1961, através da Lei nº 2.460 de 29 de dezembro, durante o
governo de Aurélio Corrêa do Carmo, o município de Altamira foi desmembrado
para reconstituir o município de Souzel, com o nome de Senador José Porfírio e
criar o município de São Félix do Xingu. O município de Senador José Porfírio
teve seu território desmembrado para constituir os municípios de Vitória do
Xingu, em 13 de dezembro de 1991, pela Lei de Criação nº 5.701, e o município
de Anapu, em 28 de dezembro de 1995, através da Lei de Criação nº 5.929,
atualmente, apenas do distrito- sede Senador José Porfírio.
O município fica localizado a margem direita do Rio Xingu, é de uma
grande exuberância natural, sua sede é conhecida apenas como Souzel,
é a única cidade do estado do Pará que possui uma praia bem
na frente, com tantas belezas naturais do imponente Rio
Xingu.
Todo escritor deve obrigatoriamente desenvolver duas habilidades
fundamentais para que seu livro tenha sentido: a primeira é dar voz aos mortos,
falar e viver o que eles viveram, tem a capacidade de se refugiar mentalmente e
se deixar levar a cada pagina aquela época, coisa que só se consegue depois de
refletir e pensar solitariamente diversas vezes.
Outra coisa e convencer o leitor que aquele livro mostra a realidade da
época, as desigualdades sofridas numa época de opressão, onde os oprimidos não
tinham defensores. Depois de uma cuidadosa pesquisa consegui concluir este
obra, que tenho certeza que será imortalizada, para que este povo da região do
Xingu nunca mais deixe que um Coronel domine o poder por tantos anos, porque o
poder é somente do povo.
Fontes consultadas:
-Agenda 21 local Altamira- 2009;
-Professor Ubirajara Marques Umbuzeiro-
Altamira e sua História-1999;
-Cesar Pinto da Silva/ Marly Solange
Carvalho da Cunha- Os Joses na Republica: alguns apontamentos sobre poder,
demarcações e tensões sociais no interior do estado do Pará (1889-1928);
-Jornal Folha do norte data de 16 de
abril de 1904-p1;
-Dados do IBGE-2010;
-Ferreira de Castro- A selva;
- Barbara Weinstein- A borracha na
Amazônia: expansão e decadência (1850-1920)-EDUSP-1993;
- Vânia Maria Menezes de Figueiredo-
Altamira, latitude esperança- 1976;
- Henri Coudreau- Voyage au Xingu- 1896.