sexta-feira, 6 de agosto de 2021

 

 Quando estive em Altamira estado do Pará pela primeira vez, senti a necessidade de falar sobre está cidade, que se originou de antigas missões jesuítas, pioneiros da civilização que venceram por terra a volta grande do rio Xingu, em meados de 1750.

O Jesuíta austríaco Roque Hunderfund, ousou navegar nas águas do rio Xingu e ultrapassar a grande cachoeira, tornou-se o primeiro desbravador de Altamira.

Depois que os missionários foram expulsos por ordem superior, aquela estrada entre Vitória do Xingu e Altamira foi desaparecendo até o ano de 1868, quando outra missão católica se estabeleceu na região com ajuda dos índios das tribos Tacuuba, Penes e Jurunas, posteriormente fizeram amizades com outras tribos locais: Achipaias, Curiarias, Araras e Carajas, dando inicio a cidade de Altamira graças à valorosa missão comandada pelos frades capuchinhos: Ludovico e Carmelo Mazarino, cuja extensão foi até a margem esquerda do Rio Xingu a foz do rio Ambé.

Segundo vários historiadores e pesquisadores, foi reconstruído o caminho não mais do distrito de Cachoeira e sim da foz do rio Tucurui pelo Major do Exercito Brasileiro Leocácio de Souza que fez uma ariscada expedição mata adentro, desaparecendo na selva. 

Com ajuda de escravos o Coronel Gaiôso refez o caminho da expedição abrindo um pico da foz do rio Juá até o rio Ambé, iniciando uma grande estrada no meio da mata fechada.

Ficando paralisado o trabalho após o ano de 1888 com a Lei Áurea, que libertaria os escravos.

Um baiano chamado Agrário Cavalcante retomou os trabalhos para abertura da estrada, até seu falecimento, ficando responsável pela abertura dos ramais e escoamento da produção na região, seu sobrinho José Porfirio de Miranda Júnior.

Altamira foi incluída ao município de Souzel através da Lei nº 8.111 de 14 de abril de 1874. Sendo o maior município do Estado do Pará, o que exigia que a região do alto Xingu estabelecesse um governo municipal.

Em 1892 Altamira não parava de crescer, começando a se tornar Vila, dando aspecto de cidade, em 1911 foi criada uma comissão para administrar a Vila de Altamira, nomes como Coronel Raimundo de Paula Marques e Major Pedro de Oliveira lemos eram influentes comerciantes na época.

Devido a extensão territorial e a falta de comunicação com a região via marítima, o próprio Coronel José Porfirio de Miranda Junior defendeu a desmembramento de Souzel, assim o município foi criado pela Lei Estadual nº 1.234 de 6 de novembro de 1911, data de sua emancipação na categoria de cidade somente pela Lei nº 1604 de 27 de setembro de 1917.

Em 1940 a região torna-se um núcleo de exploração de suas riquezas naturais, expedições, concentrando-se os famosos “soldados da borracha”, garimpeiros e êxodo rural.

Aquela região cresceu de forma espantosa alicerçada através do sistema do aviamento e da própria navegação em seus rios, a busca do minério dourado, mortes violentas nas florestas cercadas por etnias indígenas.      

Em 1950 entre conflitos agrários e o declínio econômico com a queda do preço da borracha, a pirataria dos segredos da mata fechada, caçadores e seu comercio de peles de animais, pesca predatória e o enfrentamento ariscado com os índios ao entrar em lugares considerados sagrados pelos indígenas na região.       

Em 1970 houve a abertura da rodovia Transamazônica onde foi implantada pelo Governo Federal na época uma politica de colonização da Amazônia.

Uma fase marcada por ocupações de extensas terras, para uso agropecuário, colonizando ocupações sem uso, devastando e interferindo na pacata vida indígena.       

Era necessário preencher os chamados vazios demográficos. Intensificada pelo Programa de Integração Nacional, iniciado pelos órgãos: SUDAM e do BASA.       

Apesar do crescimento populacional possuindo menos de 6 mil habitantes, migrantes de todos os estados brasileiros,

Foi um crescimento rápido e desordenado, em 1974 foi apresentado pelo Governo Federal uma politica de concentração de polos agropecuários e agro minerais, tornando-se um polo direcionado as empresas agropecuárias.      

Um processo de ocupação desastroso nas áreas alagadas ao redor da cidade, tornando uma espécie de periferia urbana, surgindo novos bairros habitados por ex-colonos empregados e assalariado urbanos rurais.      

Em 1991 a cidade de Altamira possuía mais 50 mil habitantes,  já década 2000 houve um grande salto econômico e social com uma população de mais de 70 mil habitantes.     

No ano de 2010 com o inicio das obras de Belo Monte o município ficaria marcado por uma nova fase de ocupação da cidade, com muitas oportunidades de emprego, em contra mão as populações atingidas diretamente pela barragem com o enchimento do reservatório e as populações indígenas, seriam temas de grandes debates.

 

 A FELICIDADE

Aprendemos, no mundo em que estamos, a nos apegar, a termos e possuirmos cada vez mais.

Toda pessoa que é apegada a bens é uma pessoa sofrida e machucada, não encontra o sentido de ser feliz.

Aqui, não é uma questão de ter ou não bens, a questão é onde colocamos o nosso coração.

Não há felicidade na ambição, na cobiça, 


em ter por ter, e cada vez querer ter mais.

Experimente a felicidade de um coração que sabe PARTILHAR, DIVIDIR E CUIDAR.

Experimente ser feliz.



O VELHO SENADOR DO XINGU- CONTO AUTOR: GILVANDRO TORRES

 

PRIMEIRO RASCUNHO- POSSIVEL LIVRO DE CRÔNICA

APRESENTAÇÃO

Nesta obra, tento passar através de dados históricos uma biografia não autorizada, sem descendente direto, foi preciso mergulhar e viver nesta região em que o velho Senador Estadual  que fez amigos e inimigos.

Agradeço a cada leitor, permita-me a dizer é um livro que marca uma época de glamour na região do Xingu, fazendo o leitor mergulhar numa sociedade dividida, opressora e custeada pelo sangue e suor dos menos favorecidos.

Escrever sobre a história da região do Xingu é algo fantástico, é como viver aquela época da ascensão a queda de um Coronel que tinha tantos admiradores como inimigos políticos, teve uma vida de luxo ao mesmo tempo simples ao querer transformar uma região até então apenas de mata fechada em uma região prospera, José Porfírio de Miranda Júnior, foi um político da República velha.

CAPITULO I

O IMPONENTE RIO XINGU, ALI NASCEU UM SONHO.

A origem histórica do atual município de Senador José Porfírio está relacionada com o antigo município de Souzel. 

Sabe-se, entretanto, que antes de 1750, as antigas missões dos jesuítas da Companhia de Jesus, foram as que levaram os primeiros traços de civilização ao Xingu, após vencerem, por terra, a Volta Grande daquele rio.

Ali se estabeleceram, fundaram uma missão e abriram uma estrada primitiva, fazendo a ligação entre essa missão e a localidade de Cachoeira, no rio Tucuruí. 

Após a expulsão dos jesuítas, esta estrada ficou praticamente abandonada e foram posteriormente reconstruídas, em 1868, pela missão dos Capuchos da Piedade dos frades Ludovico e Carmelo de Mazzarino.

Ao se instalarem na antiga missão dos jesuítas, os Capuchinhos reergueram-na e, contando com um número maior de índios de diferentes tribos, promoveram o seu crescimento e desenvolvimento.

Com essa missão, estabeleceram-se os fundamentos do povoamento, à margem esquerda do rio Xingu, acima da foz do rio Ambé que, ao se desenvolver, transformou-se no povoado de Altamira, e, mais tarde na vila de Altamira.

Não se sabe, entretanto, a data precisa em que o povoado foi fundado.

Pela tradição deixada pelos capuchinhos, o major Leocádio de Souza viu a possibilidade de reconstruir o caminho, não mais de Cachoeira, porém, da foz do rio Tucuruí até o povoado de Altamira, porém sua expedição não obteve êxito.

Posteriormente, em 1880 o Coronel Gaioso tomou a empreitada, juntamente com seus escravos, iniciando a abertura de uma boa estrada de rodagem, até a embocadura do rio Ambé, que ficou paralisada e perdida em consequência da Lei Áurea, que o privou de sua escravaria.

O baiano Agrário Cavalcante dando continuidade à tarefa, na parte relativa à abertura da estrada para o Ambé, não conseguiu, porém ver seus esforços coroados de resultados, por seu falecimento. Seu sobrinho José Porfírio de Miranda Júnior concluiu definitivamente a grande via e adquiriu a sua propriedade e lhe deu prosperidade.

Desenvolveu ao máximo os seus negócios da região, sendo o maior produtor de borracha e caucho no Pará, introduzindo métodos dos mais modernos à época, para incremento de suas atividades. Em face da Lei n.º 811, de 14 de abril de 1874, foi criado o município de Souzel.

 Sendo eleito de forma duvidosa sem registro eleitoral o Sr. José Porfírio de Miranda Júnior como seu Intendente municipal, cargo que hoje se refere a Prefeito municipal, como Intendente de Souzel, dotou o município de melhoramentos para a época, tais como iluminação a gás, serviço de limpeza urbana, além de um majestoso edifício para sede da municipalidade e a Igreja Matriz, hoje em ruínas. Deixando a Intendência foi eleito Senador Estadual, sendo reeleito sucessivamente comprando votos e apoio, através de barganhas politicas e intimidação com o povo local até o ano de 1930, quando foram extintos os Senados estaduais, por força da Revolução de outubro.

CAPITULO II

UMA ÉPOCA DE CORONÉIS

         Entre as 4 horas da manha ou 5 horas da manhã os seringueiros saiam para coletar o látex, obedeciam ao sistema injusto do aviamento de mercadorias a credito, com preços altos.

O patrão cedia ao seringueiro mantimentos e material de trabalho como botas, terçado, querosene e tabaco, e o seringueiro pagaria a divida com a produção de borracha, o preço das mercadorias era injusto e nunca o seringueiro conseguia pagar sua divida.

Depois de retirar o látex da árvore peneira o liquido tirando as impurezas e adicionando o agente vulcanizador é levado ao fogo por uma hora.

O látex era adicionado ainda na mata com água de cinza, um conservante natural que impede a coagulação.

O contraste existente entre os modos de vida revelados seja na suntuosa construção do casarão, em comparação a simples morada do seringueiro, até a forma de comercio desigual e combinada imposta aos seringueiros da época pelo patrão seringalista.

Era um cenário estabelecido por uma liderança politica que se intitulavam dono de vários seringais e extensão propriedades de terras era o senhor José Porphirio de Miranda Júnior, que alcançou cargos expressivos na politica, de Intendente ao Senado Estadual do Pará.

Ao adquirir o Titulo Honorifico Militar do exercito da Guarda Nacional de Coronel.

Valendo-se de alianças políticas e familiares para barganhar terras e prestigio assim como no caso do Jarí o Coronel José Júlio se casou com a filha do Intendente Municipal de Almeirim a Sra. Laura Neno. Na situação do Xingu foi à aliança politica com o Senador Antônio Lemos então força politica no Estado do Pará, o político José Porphirio casou-se com a sobrinha do Senador Antônio Lemos, a Sra. Rosalina Lemos.

Para explicar todo processo de barganha politica, citamos a República com suas terras devolutas que antes faziam parte do patrimônio da Coroa, passou a pertencer ao estado, à constituição de 1891 em seu artigo 64, apenas deixou sob tutela da União as faixas de terras necessárias para a defesa das fronteiras, fortificações, construções militares e estrada federais, dando autonomia ao estado fazendo herdeiros do grave problema fundiário.

No Estado do Pará foi delegado as Intendências Municipais as demarcações e os registros de terras e suas posses o que transformava em um ato de concessão pessoal, virando uma troca de favores políticos na região; Acumulando assim posses de terras e favorecendo seus afilhados políticos.

A situação da escravidão dos seringueiros que trabalhavam no seringal do Intendente de Souzel ficou claro a desigualdade e crueldade com o povo de menor renda, a fuga do seringueiro na região do Xingu era difícil tanto pela geografia do local que permitia a fiscalização dos jagunços do Intendente. 

Seu imponente palacete em estilo europeu, com mobílias de madeira em lei, deitado na rede liderava um povo, entre admiradores, servos e inimigos políticos, criava-se ali um personagem que marcaria a historia da região do Xingu.

Seu palacete com jardim e iluminação a gás acetileno, no auge de sua trajetória, palco de acertos políticos e festas na sociedade composta por seus apadrinhados, a custo do suor, sangue do trabalho escravo vindo das matas, os gritos de horrores traduzidos em silêncios e covas rasas sem identificação.

Como Intendente de Souzel, foi um excelente administrador público neste período o município teve iluminação a gás, serviço de limpeza urbana, além de mandar construir um majestoso edifício para sede da municipalidade e a Igreja Matriz.

Festas e mais festa com as famílias tradicionais e convidados de honra, fumava seu charuto cubano e tinha servas sexuais para as noites de inverno amazônico.

Uma goma extraída da seringueira (hevea brasiliensis), o produto comercial adquiriu importância na atividade automobilística que teve impulso econômico, social e principalmente nas cidades de Belém e Manaus.

Muitos nordestinos foram para região amazônica com o sonho de uma vida melhor, o governo federal estimulou a imigração das famílias.

Quando as matas se fecham, surge no lugar uma voz que tenta gritar, um povo que merece viver, anos de tradição levados pela obsessão, aqueles que trouxeram a desenvolvimento, comprado pelo escambo tradicional; Palavras enganadas ao povo um grito ecoou nas florestas deste imenso rio.

Cala-se a voz, é imposto um muro visto de longe como fachada do  desenvolvimento à custa de exploração.

Quando imaginamos que os patrões faziam seu aviamento à custa de um sistema econômico opressor e injusto...

Os Seringueiros passavam o dia tirando o látex nas estradas de seringueiras e vendiam o fruto do seu trabalho a troco de vale.

 O dono do Comercio era o famoso patrão, que era subordinado ao Coronel José Porfirio que se dizia dono de grandes lotes de terra, colocavam seu preço nas mercadorias e aumentavam o quanto podiam nunca os trabalhadores pagavam sua dívida.

Um tempo onde os Coronéis dominavam a vida econômica e política da região, onde o sistema econômico era o aviamento na base do escambo, e o sistema político era o coronelismo, onde o posseiro e seringueiros eram obrigados a votar no candidato do dono da terra onde o posseiro trabalhava.

A casa do patrão chamada de barracão era feita de madeira de lei e telhas de barro, pintada a óleo de branco e azul ao lado a casa que servia de comercio, entre as paredes muita mercadoria, o lugar era calmo e sereno mais escondia um sistema duvidoso economicamente onde os preços eram altos e quase sempre deixavam os seringueiros ainda mais endividados e forçados a entregar a produção pelo um preço menor.

O comercio lotado de mercadorias, onde os posseiros se atolavam em dividas, Ainda vendiam cachaça e querosene a preço de ouro.

A casa do seringueiro era na mata distante do barracão do patrão, perto das estradas de seringueira, coberta de palha, ponte de tala de açaizeiro, a terra emprestada onde roçava, e pescava no rio, o cenário não mudaria era a continuação do opressor contra o oprimido, uma época de medo e sem consciência política, onde o povo vivia na escuridão intelectual dos seus direitos, onde o grito era calado com a força dos patrões.

Onde alem dos perigos da mata como as onças, os índios que eram os verdadeiros donos das terras ali exploradas, entre dias e semanas exaustivas eram comuns desaparecer seringueiros na mata e serem encontrados mortos e decapitados pelos índios Araras.

Quantos nordestinos, sobretudo, que abandonavam a zona da mata devido à avassaladora seca aceitavam, então, as condições de um trabalho desumano nos seringais da região do Xingu.

A vida dos seringueiros era dura, era um trabalho solitário, só vinham na sede do casarão, para trazer a produção e trocar por instrumento de trabalho e comida como carne seca, feijão, arroz e sal.

O endividamento era eterno, no barracão de aviamento o Seringalista dono do seringal estipulava o preço das mercadorias e quando um seringueiro começava e tiver saldo era oferecida cachaça.

Coronel José Porfirio controlava todos seus fregueses, suas supostas propriedades rurais, cada palmo de terra era percorrido, em sua casa perto do forte do Ambé, era um recanto ao estilo europeu.

Paredes com molduras e porta retratos em ouro, mesa de madeira de lei com varias cadeiras, cristais franceses e um piano alemão, um tempo áureo da borracha, luxo e riqueza, poder e desigualdade social.

A feição do seringueiro era impiedosa, a pele envelhecida e sonhos distantes, daqueles que nunca mais voltaram a sua terra, morrendo em pouco tempo ou era de malária ou da má alimentação e as condições desumanas de trabalho.

O processo da coleta do látex era cortado de noite devido à frieza de não poder pegar a quentura que transforma leite em borracha, a casa de defumação era onde  o seringueiro fazia o processo de defumação e com o calor e a fumaça trazia doenças pulmonares.

Os capangas do Gerente do Seringal eram impiedosos, sempre nas matas a vigiar os seringueiros, e quando um tentava escapar pela mata eram mortos a tiros ou castigado.

O Coronel José Porfirio estende seu poder na região, com a patente de militar comprado da antiga Guarda Nacional, se torna Intermediário com o Governador do Estado para buscar votos, envolvendo a riqueza em busca de se manter no poder, candidatando a Senador Estadual. Com seu exercito particular e seus apoiadores de famílias tradicionais na época, mantendo apoio aos latifundiários da região.

Com seu poder de persuasão delegava tarefas sem estar no meio do povo mandava fazer o alistamento eleitoral, através dos cabos eleitorais do Coronel José Porfirio, como a maioria da população era analfabeta, era preciso fazer um requerimento do próprio punho do Seringueiro, na época o voto não era secreto e todos tinham que votar no Coronel, este era o segredo de nunca ter perdido uma eleição.

Enquanto o Coronel vivia no luxo e no poder, nas estradas de seringais os seringueiros morriam de malária, eram constantemente ameaçados pelos jagunços do Gerente dos Seringais pela baixa produção, a qualidade do látex péssima, cortes mal feitos escorria numa recipientes de alumínio que acumulava o liquido, o preço desvalorizado.

CAPITULO III

O PODER SENDO SUBSTITUÍDO

        O  barco da frota do Senador José Porfirio chamado de “Rio Xingu”, vinha buscar a produção no porto de Vitória do Xingu, cada viagem para Belém diminuía a produção.

Em Almerim o poder do Coronel José Julio também estava decaindo com revolta de trabalhadores, acima das terras de Almerim em Belterra na fábrica de Fordlandia houve uma grande manifestação dos trabalhadores conhecido como “quebra panelas”.

Já nos seringais do Coronel, eram comuns emboscados dos índios matando os seringueiros, em confrontos os seringueiros para se defender matavam os índios, a presença de novos políticos na região e novas mentalidades trazidas da Europa e das manifestações da capital paraense, o Senador começou a perceber que seu poder estava em decadência.

Nas festas promovidas em Altamira nos clubes sociais não usavam mais os broches com sua esfinge, tornou-se um defensor da emancipação da vila de Altamira.

Em sua trajetória politica era aliado do Intendente Antonio lemos, acumulou vários opositores conhecido como Laurista ou seja seguidores do Governador do Estado do Pará Lauro Sodré. Entendendo que a educação era única forma de tirar o povo da ignorância, introduzindo no Pará a municipalização do ensino.

Seu Governo liberou recursos e as prefeituras construíram escolas. Isso que os coronéis e seringalistas da região não queriam, quando o povo começa a ler e escrever começa a conhecer seus direitos e busca-lo usufruir.

O Coronel José Porphirio de Miranda Junior, após ficar viúvo, casou pela segunda vez com Rosalina Lemos, sobrinha do senador Antonio Lemos, ao que parece, não mediu esforços para entrar na família; pois segundo rumores da região do Xingu, José Porphirio sobre sua participação na morte de sua primeira esposa para poder casar-se com Rosalina Lemos.

O coronelismo clássico que praticava com uma mistura assistencialista quando se tinha interesse, sua esposa morava numa luxuosa casa no Rio de Janeiro na época capital do Brasil, nunca morou na região do Xingu.

Os jornais paraenses tratavam o Coronel José Porphirio no Xingu, o descrevem como: “dominador e imperial senhor (...) feudatário da região”.

Na região do Xingu a fuga dos seringueiros se tornava mais difícil em virtude da geografia local, cheio de cachoeiras e com poucas possibilidades de acesso, o que permitia maior fiscalização sobre a circulação dos trabalhadores.

Segundo as noticias publicada na Folha do Norte no ano de 1904 divulgava as crueldades praticadas, desta vez nas propriedades de José Porphirio.

O jornalista enfatizava que na região do Xingu era costumeira a prática de assassinatos, na mesma frequência em que se tomava um copo d'água, no caso em que o guarda livro do estabelecimento comercial do dito seringalista mandou “amarrar o infeliz e ordenou que lhe desse uma surra de umbigo de boi”.

Durante a surra “o desventurado exalou o último suspiro”.

Com o desenvolvimento da região apareceu um novo modelo de compra e venda através dos regatões eram os comerciantes que em barcos percorriam o rio Xingu para vender ou trocar mercadorias, o que permitia aos trabalhadores fugirem do esquema de compra e venda de mercadorias realizadas nos barracões de propriedade dos patrões, conhecido como aviamento.  

A borracha utilizada para troca nos regatões pelos trabalhadores era fruto do desvio de parte da produção que deveria ser repassado aos patrões, comércio clandestino que causava preocupação.

Na região do Xingu por ordem do Coronel José Porfirio  foi estabelecida a aplicação de multas aos comerciantes de regatão.

 O Coronel José Porphirio era o maior comerciante seringalista da região, portanto um dos principais interessados na extinção desse tipo de comércio.

Começando a dividir seu poder, tornando vulnerável com o novo sistema econômico imposto na região.

Com a queda do preço da borracha, e a perda de toneladas depositadas nos seringais da região, o Coronel José Porfirio começa a ter muitos prejuízos onde é forçado a vender algumas propriedades e seus próprios Gerentes, é passa a morar numa pousada em Altamira, já com uma idade avançada e sozinho, já que sua família mora no Rio de Janeiro.

O Senado estadual, no Brasil, era uma das casas do poder legislativo dos estados durante a República Velha, sendo extinto no ano de 1930, Senador Jose Porfirio passa a prever que seus dias de poder na região estariam perto do fim.

A partir da década de 1920, começaram a surgir no cenário nacional alguns fatores sociais e políticos que contribuíram decisivamente para o declínio e derrocada da República Velha.

Com a chamada “Revolução de 1930”, as oligarquias regionais foram afastadas do poder e as Assembleias Legislativas foram fechadas, dessa vez por cinco anos.

A normalidade constitucional só voltaria ao país em 1934.Magalhães Barata afilhado político de Lauro Sodré, com a vitória da revolução, deixou a prisão e rumou para Belém, onde assumiu o cargo de Interventor Federal no Pará no dia 12 de novembro de 1930.

Sua chegada à cidade motivou uma grande manifestação popular de apoio.

Promovido a Capitão três dias depois de sua posse como interventor.

O novo Interventor era afilhado politico de Lauro Sodré e não via com bons olhos o poder econômico dos Coronéis José Júlio em Almeirim e Jose Porfirio na região do Xingu, o Interventor Magalhães Barata comandou a repressão ao movimento, sufocando-o com o emprego de forças do Exército, da Marinha, da polícia e do Corpo de Bombeiros.

Devido a seu hábito de percorrer sistematicamente o interior do estado, o Interventor consolidou a capacidade eleitoral de seu partido, conquistando um apoio maciço, que no futuro iria compensar seu pouco prestígio na capital do Estado do Pará.

Porém o tempo conspirava contra a economia da borracha em 1912 foi o começo do fim, a cotação internacional da borracha registra quedas preocupantes, começou a tornar-se um negócio menos atrativo, começou a ficar difícil manter a mesma opulência e ostentação sustentada artificialmente sobre os lucros da borracha inflacionada.

Em Belém seu cunhado Antônio Lemos sofre restrições orçamentárias, ficando difícil governar um menor orçamento para uma gestão acostumada a mais de uma década com fartura e abundância de recurso foi deposto do cargo de Intendente pelos seguidores do então Governador Lauro Sodré, arrastado por vias públicas, Antônio Lemos partiu para o Rio de Janeiro.

Em 1929 a economia mundial é abalada por uma forte crise provocada pela falência da bolsa de valores de Nova York.

A crise de 1929 atingiu duramente os Estados Unidos e os países europeus, atingiu duramente a economia do Brasil.

Seu poder já está limitado apenas um cidadão que sentado à beira do rio Xingu numa pousada onde fazia refeição diariamente, já abatido e doente, respirou e lembrou quando pisou na região e se tornou um desbravador de quase todo vale do rio Xingu, fundou estabelecimentos comerciais e feitorias até suas cabeceiras, já nos limites de Mato Grosso, fundou a vila de Vitória, à margem do rio.

Em rodas de conversas com poucos amigos que sobraram depois que saiu da vida pública lembrava que no ano de 1874, em face da Lei nº 811, de 14 de abril de 1874, foi criado o município de Souzel. José Porfírio de Miranda Júnior como seu primeiro Intendente.

Devido à sua grande extensão, Souzel, o maior Município do Estado do Pará, necessitava de uma divisão administrativa, bem como se fazia necessário o estabelecimento de um Governo Municipal no alto Xingu, que era uma região mais desenvolvida do que o baixo Xingu.

Com isso Souzel foi desmembrado e deu origem ao município do Xingu, com sede na cidade de Altamira.

No quadro da divisão administrativa para 1936, o município do Xingu compunha-se de onze distritos, entre eles o de Souzel.

CAPITULO IV

 DEVANEIOS DA PERSUASÃO

        As proezas que administrou Souzel com iluminação a gás tentou fazer do Xingu uma recordação francesa, de uma época de extravagância a custo do suor e das mortes dos seringueiros. Ainda relembrou sobre a realidade vívida pela maioria dos seringueiros que vieram tentar a sorte na região do Xingu.

Alias, do Nordeste, o falado cabras da peste chegaram ao o seringal, no Rio Xingu, em uma só madrugada foram quase todos devorados pelos índios Urubus.

Certamente ali ele ainda se sentia como o eterno Senador do Xingu.

Sabe-se que tinha um traço marcante, um líder da persuasão com uma capacidade de fazer inimigos ferrenhos, desde que se estalou no portão de entrada do alto Xingu, a própria carreira politica desde Coronel que passou de Intendente de Souzel em 1874, Deputado Federal em 1899 a Senador Estadual em 1904.

Tornou-se durante décadas a maior autoridade da região do Xingu, dominou o panorama político, social e comercial.

Foi sob a batuta do Senador Jose Porfirio que no dia Altamira recebeu foros de cidade, deliciando aos moradores da recém-criada cidade festas de luxo no Clube que levava seu nome, todos usavam um broche com a efígie do Senador.

Seu belo palacete com mobílias vinda da Europa no Forte Ambé era um local onde fazia seus acordos políticos, que ele ostentava seu luxo com um belo jardim iluminado com gás acetileno, que anos depois de sua morte desintegrou-se rapidamente com o vandalismo os curiosos cobiçavam os enfeites, o Prefeito da época mandou demolir tijolo por tijolo, aproveitando todo o material que restou para fazer um muro de um novo cemitério.

Com a invasão crescente de seringueiros, seus seringais progrediram onde  prosperava, e não era apenas o comercio que sustentava sua riqueza alem de possuir grandes áreas de terras planas para a criação de gado, possuía áreas de castanhal, roças e lavouras, fiscalizadas cruelmente por seus capangas tanto no Xingu quanto no Iriri.

Na estrada que liga hoje  Altamira e Vitoria do Xingu, na época chamada de estada oito de janeiro em homenagem ao dia que nasceu sua esposa, possuía uma frota rodante que onde transportava toda produção dos colonos, a seu preço claro....

O clube Social Altamira era um luxo onde servia um bom vinho e apresentava saraus ao som da rebeca, o Senador ali sentava na cadeira de cor dourado e fumava um bom charuto cubano.

Enquanto isso na rua dos tocos hoje Magalhães Barata os seringueiros vinha para cidade gastar o pouco que tinham nos botequins com cachaça e uma farta diversidade de profissionais do sexo.

Foi nestas noites em Altamira que o Velho Senador que ganhava sucessivamente as eleições, contraiu uma gripe aparentemente simples, que se revelou a tuberculose quando bebia em copo de ouro o puro vinho português, ao se deliciar, tossindo em seguida ao ver seu lenço  sujo de sangue, espantou-se e retornou a pensão onde morava.

As dividas contraídas ao longo do tempo com o preço da borracha baixo, perderam inúmeras toneladas na mata, desavenças com seus próprios aliados, mudança de governo, perseguição politica levou a falência.

Desgostoso com a politica, ao não ser mais preferido entre os convidados nas famosas festas da alta sociedade, foi ludibriado no comercio por seus próprios fornecedores, a saúde fraca e a imagem do desalento, caminhando pela orla de Altamira sentiu-se solitário.

Lembrou-se de seu tio um baiano empreendedor e visionário chamado Agrário Cavalcante, dono de muitas terras, que após sua morte tomou o lugar de seu tio.

Em 1896 com a herança de seu tio  se tornou o patrono de toda aquela região, sendo pioneiro no ramo da navegação com lanchas a motor, e seu grande navio “ Rio Xingu”, que fazia viagens regulares a capital Paraense ao se tornar Associado numa grande casa de uma forte casa comercial em Belém.

Meses depois já bastante doente viaja para o Rio de Janeiro junto a sua esposa, jamais voltaria novamente falecendo pouco tempo depois em 1932.

Em 1961, através da Lei nº 2.460 de 29 de dezembro, durante o Governo do Estado do Pará Dr. Aurélio Corrêa do Carmo, o município de Altamira foi desmembrado para reconstituir o município de Souzel, quando adquiriu em definitivo sua emancipação político-administrativa, e foi elevada a categoria de município com a denominação de Senador José Porfírio, em homenagem ao velho Senador do Xingu.

 

Devido à sua grande extensão, Souzel, o maior Município do Estado do Pará, necessitava de uma divisão administrativa, bem como se fazia necessário o estabelecimento de um Governo Municipal no alto Xingu, que era uma região mais desenvolvida do que o baixo Xingu.

Com isso Souzel foi desmembrado e deu origem ao município do Xingu, com sede na cidade de Altamira.

No quadro da divisão administrativa para 1936, o município do Xingu compunha-se de onze distritos, entre eles o de Souzel. Posteriormente o município do Xingu teve seu nome alterado para Altamira, em face do Decreto- lei nº 2.972, de 31 de março de 1938.

Em 1955 houve uma primeira tentativa de desmembramento do sue território para constituir os municípios de Souzel e São Félix do Xingu, conforme a Lei nº 1.127, de março de 1955, a qual foi considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal.

Porém, em 1961, através da Lei nº 2.460 de 29 de dezembro, durante o governo de Aurélio Corrêa do Carmo, o município de Altamira foi desmembrado para reconstituir o município de Souzel, com o nome de Senador José Porfírio e criar o município de São Félix do Xingu.

O município de Senador José Porfírio teve seu território desmembrado para constituir os municípios de Vitória do Xingu, em 13 de dezembro de 1991, pela Lei de Criação nº 5.701, e o município de Anapu, em 28 de dezembro de 1995, através da Lei de Criação nº 5.929, atualmente, apenas do distrito- sede Senador José Porfírio.

O município fica localizado a margem direita do Rio Xingu, é de uma grande exuberância natural, sua sede é conhecida apenas como Souzel, é  a única cidade do estado do Pará que possui uma praia bem na  frente, com tantas belezas naturais  do imponente Rio Xingu.  

Todo escritor deve obrigatoriamente desenvolver duas habilidades fundamentais para que seu livro tenha sentido: a primeira é dar voz aos mortos, falar e viver o que eles viveram, tem a capacidade de se refugiar mentalmente e se deixar levar a cada pagina aquela época, coisa que só se consegue depois de refletir e pensar solitariamente diversas vezes.

Outra coisa e convencer o leitor que aquele livro mostra a realidade da época, as desigualdades sofridas numa época de opressão, onde os oprimidos não tinham defensores. Depois de uma cuidadosa pesquisa consegui concluir este obra, que tenho certeza que será imortalizada, para que este povo da região do Xingu nunca mais deixe que um Coronel domine o poder por tantos anos, porque o poder é somente do povo.

AUTOR: GILVANDRO TORRES- RASCUNHO 2017-2021


Fontes consultadas:

-Revista Fort Xingu-2009;

-Agenda 21 local Altamira- 2009;

-Professor Ubirajara Marques Umbuzeiro- Altamira e sua História-1999;

-Cesar Pinto da Silva/ Marly Solange Carvalho da Cunha- Os Joses na Republica: alguns apontamentos sobre poder, demarcações e tensões sociais no interior do estado do Pará (1889-1928);

-Jornal Folha do norte data de 16 de abril de 1904-p1;

-Dados do IBGE-2010;

-Ferreira de Castro- A selva;

- Barbara Weinstein- A borracha na Amazônia: expansão e decadência (1850-1920)-EDUSP-1993;

- Vânia Maria Menezes de Figueiredo- Altamira, latitude esperança- 1976.

- Henri Coudreau- Voyage au Xingu- 1896


quinta-feira, 5 de agosto de 2021

Estirão do rio (Conto) autor: GIVANDRO TORRES

 

APRESENTAÇÃO

Quando comecei a escrever esse livro foi uma experiência muito gratificante, descrever um cotidiano de extrema beleza interiorana, um conto misturado com senso realista de conflitos sociais.

De um olhar poético e sensível as causas sociais, misturando sentimentos e descrevendo nas palavras que se transformavam em um livro consciente e baseado em uma história real, tendo como objetivo fazer o leitor se questionar sobre sua sociedade que pertence, esta mesma sociedade que abriga um sistema opressor e desigual.

Tento passar um cotidiano de transformações sociais e forçar através das palavras ocultas e políticas que não se consegue nada sem lutar por melhorias e condições sociais para a comunidade em que vivemos.

Espero que o leitor viaje intensamente nos poemas e perceba que proteger o meio ambiente é um dever de todos nos.

Tendo infiltrado em cada leitor a pergunta: em que lado do rio você está, do lado dos opressores ou do lado dos oprimidos?

A vida é uma sensação de riscos ou se molha ou se afoga o certo que tem que se conhecer o outro lado da margem.

Quando as matas se fecham, surge no lugar uma voz que tenta gritar, um povo que merece viver, anos de tradição levados pela obsessão, aqueles que trouxeram a desenvolvimento, comprado pelo escambo tradicional.

Palavras enganadas ao povo um grito ecoou nas florestas deste imenso rio.

Cala-se a voz, é imposto um muro de concreto. É visto de longe um belo monte de mentiras, desenvolvimento à custa de exploração.

Quando imaginamos que os patrões faziam seu aviamento à custa de um sistema econômico opressor e injusto...

Os trabalhadores rurais passavam o dia em seus roçados e vendiam o fruto do seu trabalho a troco de vale.

Os comerciantes que se diziam donos de grandes lotes de terra colocavam seu preço nas mercadorias e aumentavam o quanto podiam nunca os trabalhadores pagavam sua dívida.

Primeiro foi às sementes de ucuuba, depois palmito e por ultimo as toras de madeira.

Passados os anos esses trabalhadores unidos se rebelaram e se organizaram.

Não teve sangue na luta mais teve luta no dia a dia.

Os patrões se acabaram, as grandes empresas madeireiras faliram, as casas de comercio e seu sistema hoje está abandonada pelo tempo.

Fizeram representantes legítimos da classe trabalhadora. Com os anos fizeram representantes no legislativo, combatentes a serviço da luta.

A luta se concretizou e o povo venceu e a terra hoje é de todos. 



Uns grupos de trabalhadores rurais uniram-se e se organizaram era uma longa caminhada também estava decidida a luta sem foice e nem martelo mais frente a frente com as imposições dos patrões.

Um tempo onde os patrões dominavam a vida econômica e política da região fictícia chamada ESPERANÇA e o sistema econômico era o aviamento na base do escambo, e o sistema político era o coronelismo, onde o posseiro era obrigado a votar no candidato do dono da terra onde o posseiro trabalhava.

A família trabalhando na roça, o pai cansado de uma noite mariscando tapando igarapé e despescando com timbó, a mãe fazendo comida, tratando peixe e amolecendo os caroços de açaí para fazer o vinho tão esperado e as crianças brincando a beira do rio com um olhar esperançoso ao ver o barulho do rio em que vem um barco de pequeno calado, encosta no trapiche da casa do trabalhador rural José ( personagem fictício) .

Era um dos empregados do latifundiário e comerciante local conhecido como Coronel SILVEIRA( personagem fictício), que estava convidando para trabalhar, ou seja, intimando já que seu Jose morava em suas terras.

O pai da família foi convidado para roçar na casa do patrão dono de uma porção improdutiva de terras de várzea ao ouvir o convite.

Ficou segundo pensando em silencio e acocado decidi ir atrás, embarca na canoa se despedindo da família, com um terçado rabo de galo e uma pedra para amolar coloca na canoa, arruma no porão da canoa uma panela contendo seu almoço, tira com uma cuia a água da canoa e embarcando com o remo de pracuuba segue seu destino.

Com um porronca acesso, remando há algum tempo, as paisagens do rio são lindas, o verde das palmeiras do açaizeiro faz a diferença, o barulho da mata batiza o momento único entre o ser humano e a natureza.

Rio é longo cheio de estirões e correnteza leva com a força nos braços do pai de família ao remar com seu remo feito de pracuuba.

Chega ao porto da casa grande, o patrão já está no comercio atendendo os fregueses, aviando os posseiros com preços impagáveis. 


José o pai de família amarra sua canoa, no trapiche, subindo com seu material de trabalho, olha a casa do patrão Lima era feita de madeira de lei e telhas de barro, pintada a óleo, caminho era novo e velho ao mesmo tempo, entre as paredes notas antigas e muita mercadoria, o lugar era calmo e sereno mais escondia um sistema duvidoso economicamente onde os preços eram altos e quase sempre deixavam seus fregueses ainda mais endividados e forçados a entregar a produção pelo um preço menor.

 Seu José passa pelo patrão com um olhar com desconfiança, um olhar de dono da situação imagine um comercio lotado de mercadorias, onde os posseiros se atolavam em dividas.

Fala cordialmente com os amigos que já estão no local para roçar a área em torno da casa do patrão, José o pai de família pega seu terçado rabo de galo e sua pedra para amolar, prepara o instrumento e começa a trabalhar.

Era sol de meio dia, os rostos dos trabalhadores suando, um olhar sem esperança mais ativo ao horizonte, o barulho do mato grande não dá tempo de se esquivar era a serpente que encontraria seu calcanhar, a dor era insuportável era o sangue que sai de sua perna e se misturava na terra, era os companheiros que acudiram, mais não do tempo.  

A temida jararaca venenosa, não deu tempo de chegar a cidade atravessaram o rio sob tormenta e dor, seu José gritava, mais em seu pensamento vinha a dor maior sua família, pois sabia que ia ter que deixar em poucas horas.

Os olhos do pai de família se fecham a dor do luto de seus familiares e o patrão intacto não reconhece e apenas fecha a porta de sua casa, alguma hora depois estava no comercio aviando seus fregueses era um dia de luto a morte daquele trabalhador fez seus filhos lutarem por dias melhores.


 

OS ANOS SE PASSAM...

A casa de madeira coberta de palha, ponte de tala de açaizeiro, a terra emprestada onde roçava, tirava madeira e pescava no rio, o cenário não mudaria era a continuação do opressor contra o oprimido, uma época de medo e sem consciência política, onde o povo vivia na escuridão intelectual dos seus direitos, onde o grito era calado com a força dos patrões.

Era o dia de abastecer a dispensa, era o dia de ir à casa do patrão, preparam-se a família para remar horas pelo estirão de rio, as crianças com um olhar de temer afinal era o patrão.

A chefa da família viúva coloca o remo na canoa, era 13hs o sol estavam beirando os 32 graus, a localidade fictícia ESPERANÇA estava agitada se preparando para um temporal.

Remando há quase duas horas chega-se a casa do patrão, fazia muito tempo que seu esposo tinha falecido naquele local, as crianças desembarcam com certo medo, pois as dívidas da família estavam atrasadas, as crianças ficaram atrás da mãe enquanto ela esperava o patrão jogar baralho no pátio de sua residência, com os amigos.

Depois de horas esperando, ele resolve atende-la com certa arrogância e indiferença social, gesticulando e com um tom ameaçador, ao mesmo tempo em que atende a viúva despachando sua nota de mercadorias pelo meio.

As crianças com medo do tom do patrão estavam assustadas, entre elas um menino de quase oito anos, com uma roupa bem usada estava descalço e de cabelos grande, um olhar no horizonte observa com temor toda aquela situação.

A família da viúva embarca na canoa com as mercadorias, e retornam para sua casa, afinal levavam a farinha, querosene e demais mantimentos que davam para se manter até pagar a dívida no sistema de escambo, o olhar da mãe ficou marcado na vida deste menino... Chamado JOSÉ MARIA( filho de José, personagem fictício). 


Anos se passam esta família passou muita fome, tiveram que aprender desde cedo a caçar, pescar e tirar açaí, tirar madeira em troncos com machado e fazer roça para sobreviver.

Os anos se passam este menino chamado JOSÉ MARIA, foi estudar fora do município como Seminarista na cidade de BOA VISTA( cidade fictícia), bem distante da família e passa a viver a efervescência do movimento social da época.

A luta pela terra e conscientização de seus direitos e deveres baseado na constituição universal dos direitos humanos, retorna a sua terra natal e passa a atuar diretamente na fundação partidária e na conquista dos trabalhadores rurais.

Um tempo de lutas sociais na localidade ESPERANÇA e estuda o estatuto da terra.  As conquistas são feitas a parti do momento em que o povo conhece seus direitos, a luta pela terra baseada no estatuto da terra provocou a tomada do sindicato dos Trabalhadores rurais dos pelegos.

O povo estava se organizando em comunidades eclesiais de base, preparando e formando lideranças, a união de pensamentos contra a exploração do trabalhador foi à ideia de fundar um partido político para tomar o poder dos patrões, seria o ponto de partida para revolucionar a época. 

Reuniões intensas foram debatidas, candidaturas forma definidas entre encontros em 1980 lança para candidato ANTÔNIO COSTA( personagem fictício), sendo derrotados pela elite econômica da época composta por latifundiários improdutivos, mesmo assim não desistiram da luta e elegeram dois companheiros  para o legislativo municipal legítimos representantes da localidade ESPERANÇA e da localidade NOVO HORIZONTE( local fictício).

Tornando uma grande força sindical com a tomada do sindicato dos trabalhadores rurais, nas eleições posteriores foi às urnas para o pleito municipal elegendo o candidato ANTONIO COSTA e oposição às famílias tradicionais latifundiários da região, de origem rural com a conscientização feita com trabalho de base elegeu um trabalhador rural para Prefeito de ESPERANÇA. 


Ao entrar na Sede do Poder Municipal de ESPERANÇA, aquele menino JOSÉ MARIA filho de JOSÉ tinha crescido e fazia parte do governo municipal, sentou-se na cadeira da Chefia de Gabinete do Prefeito e ali usaria sua razão e emoção para fazer de uma reflexão uma lição de vida.

Aquele mesmo patrão que um dia humilhou sua família CORONEL SILVEIRA retornaria ao cenário atual da vida daquele menino que se tornou Chefe de Gabinete do Prefeito eleito  pelo povo  e teria que atende-lo.

 Olhou de sua sala e toda aquela situação de opressão retornaria em seu pensamento, ficaram alguns minutos lembrando tudo que presenciou essa época onde a vida dos seringueiros era sofrida e saiam para trabalhar entre as 04 horas da manhã ou 05 horas da manhã os seringueiros saiam para coletar o látex, obedeciam ao sistema injusto do aviamento de mercadorias a credito, com preços altos.

O patrão cedia ao seringueiro mantimentos e material de trabalho como botas, terçado, querosene e tabaco, e o seringueiro pagaria a dívida com a produção de borracha, o preço das mercadorias era injusto e nunca o seringueiro conseguia pagar sua dívida.

Depois de retirar o látex da árvore peneira o liquido tirando as impurezas e adicionando o agente vulcanizador é levado ao fogo por uma hora.

O látex era adicionado ainda na mata com água de cinza, um conservante natural que impede a coagulação.

Os posseiros burlavam e vendiam para os regatões que passavam, o comercio clandestino entre os posseiros e donos das embarcações ficaram altamente perigosos e a força regional passou a multar os donos de regatões, na época CORONEL SILVEIRA era o maior comerciante de ESPERANÇA.

Foi uma época onde os posseiros vivam numa situação da escravidão dos seringueiros que trabalhavam no seringal do comerciante CORONEL SILVEIRA que se dizia dono de uma extensa faixa de terra ficou claro a desigualdade e crueldade com o povo de menor renda.  


Veio em seus pensamentos aquela luta diária para tirar a colheita do açaí é praticada por muitas famílias, sendo destinado ao consumo familiar.

O trabalho era feito frequentemente com seus irmãos, uma para subir nos açaizeiros e colher os cachos e outra para debulhar os frutos, colocando o açaí em peneiros.

Uma lágrima chegou a cair em seus olhos lagrimados, olhou para cima e mandou chamar o velho CORONEL SILVEIRA em vez de usar o sentimento de raiva que sentia, usou a cordialidade e atendeu aquele que um dia foi seu opressor.

"Pois, se perdoardes aos homens as suas ofensas, assim também vosso Pai celeste vos perdoará. Entretanto, se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas". (Mateus, 6, 14-15).

AUTOR: GILVANDRO TORRES 2021 
PRIMEIRO RASCUNHO